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Setor de mineração debate mudanças climáticas na 9ª ABM Week

Especialistas do setor mineral discutem adaptação às mudanças climáticas na 9ª edição da ABM Week.

Mineração
O setor minerometalúrgico analisa impactos das mudanças climáticas e estratégias de adaptação na ABM Week. Foto: Divulgação

Na 9ª edição da ABM Week — realizada de 9 a 11 de setembro de 2025, no Pro Magno Centro de Eventos, em São Paulo — o tema das mudanças climáticas e da adaptação no setor de mineração e metalurgia ganhou destaque.  Em uma das mesas-redondas, especialistas debateram como a mineração brasileira deve se posicionar perante riscos ambientais crescentes, tanto no aspecto de emissões quanto no de vulnerabilidades físicas.

Contextualização: dois prismas da mineração

Para entender o cenário, o setor precisa olhar sob dois prismas. Primeiro, como gerador de impactos ambientais internos — por exemplo, consumo energético, transporte e operações em mina. Segundo, como receptor das consequências das mudanças climáticas — como eventos extremos, falta de água ou danos à infraestrutura logística.
A consultora e coordenadora do Painel Mineração, Redução e Aglomeração, Vânia Lúcia de Lima Andrade, resume: “A grande fonte energética da mineração é a elétrica, que no Brasil vem majoritariamente de energia limpa. A geração de CO₂ se dá nas fases de transporte, na mina e para chegar ao mercado, seja em caminhões, trens ou navios. Portanto, ao falar em redução de geração de CO₂, precisamos olhar principalmente para a logística.”

Emissões e desempenho: cenário atual

De acordo com o sistema Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), a mineração ocupa a nona posição no ranking nacional de emissões, considerando emissões diretas, uso de energia, resíduos e impactos em solo e água.
Ainda que a mineração tenha uma ocupação territorial relativamente baixa — “menos de 0,1% do território nacional”, segundo Vânia Andrade — o impacto local pode ser expressivo, o que reforça a necessidade de práticas responsáveis.

Oportunidades na cadeia: minerais críticos e economia verde

Apesar dos desafios, o setor identifica oportunidades significativas. A produção de minerais críticos — como lítio, cobre, níquel e terras raras — está intimamente ligada à transição energética global, e o Brasil conta com reservas expressivas. A mineração, portanto, pode ajudar a siderurgia a reduzir emissões ao fornecer minério de qualidade superior ou produtos com menor pegada ambiental (como briquete verde).
Segundo Vânia Andrade: “A mineração é a principal atividade a viabilizar a transição energética para fontes limpas como a solar e eólica. … O Brasil tem reservas importantes… Por isso, o acesso a estas fontes de minerais tem sido alvo de disputas geopolíticas.”

Riscos climáticos já em evidência

Um estudo da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, em parceria com Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e UNESCO, mostrou que desastres climáticos no Brasil aumentaram cerca de 250% entre 2020 e 2023, em relação à década de 1990.
Os impactos já observados ou previstos para o setor incluem:

  • indisponibilidade de água, com risco de interrupções e necessidade de adaptação;

  • chuvas intensas, inundações que podem danificar infraestrutura de minas, barragens de rejeitos, transporte e provocar atrasos;

  • vulnerabilidades em sistemas de energia e logística, ocasionando falhas e paralisações;

  • aumento dos riscos operacionais para trabalhadores e comunidades próximas.

Desafio da imagem e responsabilidade ambiental

Além dos impactos diretos, o setor minerometalúrgico ainda convive com estigma de ser uma atividade poluente e ambientalmente perigosa. Conforme avaliação de Vânia Andrade, apesar da pequena área ocupada, “a imagem da mineração é ruim na sociedade muito em função do impacto ambiental local.”
Para reverter esse quadro, a consultora aponta medidas como o fechamento progressivo das minas, com recuperação ambiental ao longo da vida útil do empreendimento — não apenas ao final — e lembra que a Agência Nacional de Mineração (ANM) já regulamenta esse processo desde 2018.

Desafios estruturais e logísticos

A logística aparece como eixo central da discussão: o transporte de minério por caminhões, trens e navios representa uma parcela significativa das emissões de CO₂. Já na outra ponta, a adaptação às mudanças climáticas implica investimento em infraestrutura resiliente, sistemas de monitoramento e gestão de riscos.
No painel da ABM Week, especialistas ressaltaram que o setor precisa de inovação tecnológica, flexibilidade regulatória e parcerias público-privadas para viabilizar a transição. No âmbito internacional, o setor siderúrgico ligado à mineração aponta que reduzir as emissões exige não apenas boas intenções, mas também escala de investimento e maturação de processos. 

Visão equilibrada: vantagens e limitações

Por um lado, o setor oferece vantagens comparativas: o Brasil tem amplo território, reservas minerais relevantes, produção de energia relativamente limpa e posicionamento estratégico para a cadeia de transição. Por outro lado, limitações persistem: dependência de transporte, necessidade de capital e tecnologia para reduzir emissões, desafios regulatórios e de imagem, além dos impactos climáticos que já ocorrem e exigem adaptação rápida.
Por exemplo, o documento “Mining and the Carbon Market”, do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), destaca que o novo sistema brasileiro de comércio de emissões (SBCE) coloca no centro da discussão a redução de gases-efeito-estufa, o que implica custos, medição, reporte e verificação rígida. 

Caminhos adiante e recomendações

Especialistas reunidos na ABM Week sugerem que o setor desenvolva três estratégias principais:

  1. Integração logística e redução de emissões de transporte — repensar modais, otimizar rotas, usar energia renovável nos deslocamentos.

  2. Produção de minerais críticos com baixo impacto — investir em métodos sustentáveis e em maior valor agregado, não apenas na extração bruta.

  3. Resiliência climática e governança ESG — adaptar operações a eventos extremos, implementar fechamento progressivo de minas, transparência e diálogo com comunidades e sociedade civil.

A discussão sobre mudanças climáticas na mineração — tema central em uma das mesas-redondas da 9ª ABM Week — revela um setor em transição: por um lado, há plena consciência dos riscos e das responsabilidades ambientais; por outro, há uma janela de oportunidade no contexto da transição energética global e das exigências por práticas mais sustentáveis. A mineração brasileira deve, portanto, caminhar na linha tênue entre reduzir impactos, se adaptar às transformações climáticas e aproveitar seu papel estratégico na economia mundial. Para tanto, inovação, regulação adequada, logística eficiente e engajamento social serão peças-chave.

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