Visita à Aldeia Vista Alegre reforça o papel da Amazônia na agenda da COP30 e mostra compromissos do presidente Lula com os povos indígenas.
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| O presidente Lula com a cacique Irenilce Kumaruara: conhecer, reconhecer reivindicações e acionar políticas públicas. Foto: Ricardo Stuckert / PR |
Na manhã do domingo (02/11), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve na Aldeia Vista Alegre do Capixauã, localizada na Reserva Extrativista Tapajós‑Arapiuns (PA). A visita faz parte da preparação para a COP30 — ou seja, a 30.ª Conferência das Partes da UNFCCC sobre mudança do clima — marcada para os dias 10 a 21 de novembro, em Belém.
A escolha de uma comunidade amazônica para o encontro demonstra o que o governo chama de “visão de proximidade” com os povos tradicionais da floresta — um símbolo-chave na estratégia de agenda climática. O presidente declarou no local:
“Sempre acho que a gente tem que ver com os próprios olhos e pegar na mão das pessoas para sentir como é que as crianças estudam… para quem vendem, se tem mercado…”
A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns foi criada em 6 de novembro de 1998, sendo a primeira unidade de conservação desse tipo no Pará. Ela se estende nos municípios de Santarém e Aveiro, com área estimada em aproximadamente 690 mil hectares.
Na aldeia, vivem 27 famílias (115 pessoas) sob a liderança da Irenilce Kumaruara, de 43 anos, que atua como cacique e coordena uma junta de quatro mulheres. Ao todo, o povo Kumaruara é composto por cerca de 10 aldeias com aproximadamente 3 mil habitantes.
O que foi tratado e os compromissos
Durante o diálogo com lideranças indígenas, o presidente assumiu compromissos em várias áreas:
Além disso, a ministra Marina Silva destacou que a Resex está “100% regularizada” junto ao governo federal, ressaltando dados de redução de desmatamento nas unidades de conservação: 31% em relação ao ano anterior e 74% em comparação ao governo anterior.
Perspectivas e diferentes pontos de vista
Do ponto de vista do governo federal, a visita integra uma estratégia de mostrar o bioma amazônico como parte integrante da agenda global de clima e dar voz aos povos tradicionais antes da COP30. A presença dos ministros Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Marina Silva reforça esse engajamento.
Por outro lado, analistas e organizações da sociedade civil alertam que visitas simbólicas são apenas o primeiro passo e que o real desafio está na implementação das políticas prometidas. Além disso, o local de realização da COP30 (Belém) enfrenta críticas sobre infraestrutura e custo logístico, o que pode impactar a credibilidade do evento.
Para os povos indígenas da região, a visita representa reconhecimento, mas há claros indicativos de que o atendimento das demandas concretas dependerá de efetiva articulação interministerial e de recursos orçamentários. Por exemplo, a demarcação física de algumas aldeias da Resex está prevista apenas para o primeiro semestre do ano que vem.
Importância para a COP30 e para a Amazônia
A estratégia de realizar parte da agenda da COP30 ou eventos preparatórios na Amazônia tem dois vetores principais:
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Simbolizar o papel central da floresta amazônica no equilíbrio climático global.
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Permitir que líderes internacionais possam conhecer, “in loco”, os desafios de conservação, infraestrutura e modos de vida dos povos tradicionais.
Como apontado pela página oficial da COP30, o evento de 6 e 7 de novembro em Belém reunirá chefes de Estado para tratar de temas como “Florestas e Oceanos”, “Transição Energética” e o Acordo de Paris (NDCs).
Limitações e desafios à vista
Apesar das promessas, há obstáculos claros:
- A logística na região amazônica apresenta custos elevados e infraestrutura ainda em obras.
- A efetiva execução de programas em saúde, educação e energia exige tempo, técnicos especializados e articulação entre governos federal, estadual e comunitário.
- Para os povos tradicionais, a pressão por resultados é concreta: infraestrutura isolada, acesso dificultado, isolamento geográfico.
A visita de Lula à Aldeia Vista Alegre do Capixauã representa um passo simbólico e estratégico na agenda da COP30, reafirmando o papel da Amazônia e dos povos indígenas no debate climático global. O uso da palavra-chave “COP30” é central, pois conecta a ação local à dimensão internacional. Ainda assim, o resultado desse momento dependerá da capacidade de transformar compromissos em políticas concretas. Se a roda de conversa com o povo Kumaruara e os anúncios de saúde, educação e energia se converterem em entregas mensuráveis, a iniciativa poderá marcar uma trajetória positiva. Caso contrário, corre o risco de permanecer como gesto simbólico com repercussão limitada.

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