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O que falta em muitos mandatos, sobra em Heloísa Helena

Quando a política nasce da vida concreta, a empatia deixa de ser discurso e se torna prática.


Heloisa Helena
Deputada federal Heloísa Helena em seu discurso de posse. Foto: Bruno Spada

Origem não é detalhe: é posição política

A trajetória de um parlamentar começa muito antes do primeiro mandato. Ela nasce na família, no território, nas dores e nas escolhas que moldam o caráter. No caso de Heloísa Helena, essa origem não é um adereço biográfico, mas o eixo central de sua atuação pública. Nordestina, criada por uma mãe solo, costureira, que sustentou a casa com trabalho duro e apostou na educação como salvação, Heloísa foi formada em um ambiente onde dignidade nunca foi retórica.

A educação chegou àquela casa de forma simples e insistente: livros comprados de vendedores ambulantes, oferecidos como presentes. Dessa aposta surgiram trajetórias universitárias e profissionais — entre elas, a de Heloísa, que se tornou enfermeira. Quem aprende desde cedo que a sobrevivência é coletiva desenvolve uma ética política incompatível com o cinismo institucional.

Coerência entre vida e mandato

O que diferencia Heloísa Helena da maioria dos parlamentares não é o tom de voz, mas a coerência. Sua atuação sempre foi marcada por um profundo incômodo com o abandono histórico do povo brasileiro por grande parte da classe política. Em seus discursos, a empatia não aparece como estratégia de comunicação, mas como consequência de uma trajetória forjada nas dores sociais.

Essa coerência se expressa na crítica sistemática à captura do Estado pelo capital financeiro. Na tribuna, Heloísa denunciou reiteradamente o poder dos bancos, a política de juros altos e a lógica rentista que transforma o orçamento público em instrumento de concentração de riqueza. Para ela, não há democracia possível enquanto o Estado servir mais aos rentistas do que às maiorias sociais.

Reformas que escolhem lados — e não o povo

Sua oposição às reformas previdenciária e administrativa nunca foi corporativista. Foi ética. Heloísa alertou, com clareza e antecedência, que essas reformas penalizam os mais pobres, desmontam direitos históricos e transferem o custo das crises econômicas para quem vive do próprio trabalho. Ajustar contas sacrificando aposentados, servidores e trabalhadores não é neutralidade técnica: é escolha política.

Em um Congresso frequentemente seduzido pela linguagem fria dos números, Heloísa insistiu em recolocar pessoas no centro do debate. Lembrou que direitos sociais não são privilégios e que eficiência fiscal não pode significar desumanização.

A política que inclui também os animais

Pouco divulgado, mas profundamente revelador, é o posicionamento de Heloísa Helena em defesa dos animais. Vegana, ela tem denunciado a industrialização perversa da vida. Denuncia a violência estrutural da indústria do leite, e o abate de terneiros, marcada pela separação forçada de vacas e suas crias, e relaciona essa prática à mesma lógica que mercantiliza corpos humanos.

Para Heloísa, a exploração animal não é um tema periférico, mas parte do mesmo sistema que transforma tudo em lucro e nada em dignidade. Trata-se de uma crítica radical à ideia de que a vida — qualquer vida — pode ser reduzida a mercadoria.

Uma esquerda sem conciliação permanente

É preciso dizer com clareza: Heloísa Helena nunca esteve alinhada ao projeto político de Lula. Sua crítica sempre foi estrutural, não pessoal. Para ela, não basta um discurso popular se a governabilidade se constrói com bancos, empreiteiras e elites econômicas. Sua esquerda não é a da conciliação permanente, mas a do enfrentamento às desigualdades.

Em tempos de discursos calculados e mandatos moldados por pesquisas de opinião, Heloísa Helena representa algo cada vez mais raro: uma política onde origem, prática e posicionamento caminham juntos. Talvez seja exatamente isso que falte em tantos discursos — e que, no dela, sobra.

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