Michel Temer volta discretamente ao centro político e reabre o debate sobre a reconstrução da moderação no Brasil antes das eleições de 2026.
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| Silencioso, Michel Temer volta a influenciar a política nacional. Foto: Divulgação |
Por: Sanchilis Oliveira.
Michel Temer é, talvez, o político mais subestimado da República recente. Discreto, técnico, sem carisma popular, mas dotado de uma habilidade rara no Brasil polarizado: a de compreender o poder em sua engrenagem mais íntima.
Agora, ao que tudo indica, o “Vampirão” — apelido que o persegue desde a caricatura de 2017 — volta a se mover. O PSDB, comandado por Marconi Perillo, sondou o ex-presidente para disputar a Presidência da República em 2026. O convite, embora tratado com humor por parte da opinião pública, revela algo mais profundo: a tentativa de renascimento do centro político.
Enquanto a direita briga no X e a esquerda disputa cargos e narrativas, Temer aparece como quem observa o incêndio político e serve café.
O centro ainda respira e Temer sabe disso
O que muitos chamam de “centrão gourmet” pode ser lido, na prática, como a busca por uma alternativa institucional. O bolsonarismo se radicalizou; o lulismo enfrenta o desgaste natural de quem governa sob pressões econômicas e sociais. Nesse vácuo, surge novamente a figura do conciliador, do articulador que não grita — apenas negocia.
Michel Temer nunca foi popular, mas foi eficaz. Costurou o impeachment de Dilma, acalmou o mercado, reformou a Previdência e escreveu, literalmente, a carta que desarmou uma crise institucional em 2021, quando o país parecia à beira do caos.
Não se trata de carisma, mas de controle. O ex-presidente entende Brasília como poucos. E, convenhamos: em tempos de histeria política, isso pode ser uma virtude.
A política como xadrez, não como ringue
O retorno de Temer, por ora, não é uma candidatura. É um movimento de bastidor. Ele tem rodado o país com palestras e reuniões discretas — uma espécie de “consultoria institucional de luxo”. A plateia não é composta por eleitores, mas por líderes partidários e empresários interessados em estabilidade.
Sua condição é clara: só entrará no jogo se houver união entre PL, PSDB, MDB, União Brasil, PP e Republicanos. Em tradução livre: só joga se todos aceitarem que ele seja o árbitro do centro.
Temer não corre, não fala alto e não precisa de holofotes. Ele espera os outros errarem. E quando erram — como o país tem visto reiteradamente —, ele reaparece.
Entre a nostalgia e o pragmatismo
É fácil ridicularizar a ideia de um “novo protagonismo” de Michel Temer. Mas o Brasil já aprendeu a não subestimar políticos silenciosos. A história recente mostra que, quando a polarização se exaure, o país volta os olhos para quem promete equilíbrio.
Temer simboliza um estilo político que muitos consideram ultrapassado — mas que, paradoxalmente, pode ser o que falta para o sistema respirar. Ele não seduz o eleitorado; tranquiliza o establishment.
E essa é, talvez, sua maior força: falar a língua das elites econômicas e institucionais, que preferem previsibilidade ao populismo.
O paradoxo do Vampirão
O Brasil vive um dilema curioso: critica o centrão, mas recorre a ele sempre que o país entra em colapso. Temer representa exatamente esse paradoxo — o mal necessário que estabiliza, o líder sem carisma que evita rupturas, o político que sobrevive a todos os escândalos porque compreende o poder como poucos.
Sua figura evoca repulsa e respeito em doses iguais. Mas ignorá-lo é erro. Enquanto figuras como Lula, Bolsonaro e Ciro polarizam o debate, Temer organiza as conversas de bastidor que realmente decidem o rumo institucional.
O que 2026 pode revelar
O movimento de Temer — discreto, quase invisível — indica algo além da ambição pessoal: o esforço de reconfigurar o centro político como espaço de poder e moderação.
Talvez ele não seja candidato, mas será, certamente, o fiador de alianças e o intérprete entre blocos antagônicos. Brasília ainda precisa de adultos na sala — e Temer se apresenta, com seu latim e seu terno impecável, como o último dessa espécie.
Em um país viciado em extremos, sua simples presença é uma lembrança incômoda de que o poder não grita — sussurra.
Michel Temer não quer voltar à Presidência. Quer voltar à relevância. E, para um homem que sobreviveu a todos os ciclos políticos das últimas décadas, talvez essa seja a posição mais confortável.
O Vampirão, afinal, nunca dorme. Ele apenas espera o momento certo para abrir os olhos.
Pergunta que não quer calar: O Vampirão voltou pra salvar o centro — ou pra garantir que ele nunca morra?

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