Ads

Orçamento gigante, gestão pequena e o polêmico pedido de empréstimo de Mano Medeiros

Mesmo com R$ 2,4 bilhões no orçamento de 2025, prefeito quer novo empréstimo e não explica onde o dinheiro atual é investido.

Mano Medeiros na Câmara de Jaboatão dos Guararapes
Com serviços básicos em crise, Prefeito Mano Medeiros pede empréstimo milionário sem detalhar gastos do orçamento já disponível. Foto: Divulgação

Mesmo com um orçamento de R$ 2,4 bilhões previsto para 2025, o prefeito Mano Medeiros (PL) insiste em pedir autorização para contrair um empréstimo de R$ 100 milhões, provocando um debate urgente sobre gestão, prioridades e transparência em Jaboatão dos Guararapes. A cidade, que convive diariamente com serviços precarizados, infraestrutura deficiente e bairros abandonados, não apresenta sinais compatíveis com a magnitude dos recursos que a administração municipal já tem à disposição. Por isso, a pergunta central permanece: se Jaboatão já dispõe de um orçamento bilionário, por que o prefeito precisa endividar ainda mais o município? E pior: por que buscar mais dinheiro quando a gestão não demonstra capacidade plena de administrar o montante colossal que já possui?

O questionamento se torna ainda mais pertinente quando se observa que 2026 é ano eleitoral, e a esposa do prefeito Andreia Medeiros (PSD), é pré-candidata a deputada estadual. A coincidência temporal entre um pedido de empréstimo de R$ 100 milhões e o período que tradicionalmente concentra inaugurações, obras emergenciais e ações de forte apelo popular não passa despercebida. A proximidade do calendário eleitoral torna a decisão ainda mais sensível e exige escrutínio rigoroso. Afinal, seria legítimo contrair uma dívida milionária em nome da cidade se o objetivo real for inflar artificialmente a vitrine administrativa às vésperas da campanha eleitoral?

A situação se agrava quando lembramos que o prefeito não tem demonstrado eficiência sequer na gestão do orçamento atual. Com R$ 2,4 bilhões disponíveis, Jaboatão deveria estar vivendo um ciclo de requalificação urbana, modernização dos serviços públicos e melhoria concreta nas áreas mais críticas da cidade. No entanto, quem circula pelos bairros vê outra realidade: buracos nas ruas, postos de saúde com falta de insumos, escolas deterioradas, obras lentas ou paradas, comunidades inteiras sem saneamento e uma estrutura administrativa que parece funcionar no improviso. Não é razoável acreditar que uma gestão que não organiza o que já tem conseguirá gerir bem ainda mais recursos — especialmente em um contexto pré-eleitoral.

Diante desse cenário, o pedido de empréstimo de R$ 100 milhões parece menos uma necessidade técnica e mais uma manobra política, construída sob o discurso genérico de “investimentos em infraestrutura”. A justificativa não apresenta detalhamento de quais obras seriam realizadas, em quais bairros, com quais custos, qual o cronograma e qual o impacto do novo endividamento sobre o orçamento futuro. Termos vagos como “saneamento” e “infraestrutura” não substituem planejamento real. Obras eleitoreiras, por outro lado, sempre aparecem rapidamente quando convém.

E aqui reside o principal problema: não há transparência. A Prefeitura não explica como está aplicando os R$ 2,4 bilhões atuais, não apresenta prioridades claras, não define metas objetivas e não disponibiliza relatórios detalhados de investimentos. Tudo isso seria obrigação básica de qualquer administração pública séria — mais ainda de uma gestão que quer contrair uma dívida milionária às portas de uma eleição que envolve um familiar direto do prefeito.

A coincidência entre o empréstimo e a pré-candidatura da esposa de Mano Medeiros não pode ser tratada como detalhe. Em política, coincidências assim costumam ser tudo, menos acaso. Uma gestão eficiente poderia demonstrar resultados expressivos sem recorrer a empréstimos. Mas quando a gestão é frágil, quando faltam entregas, quando a cidade está abandonada, recorrer a um cheque de R$ 100 milhões pode parecer a solução mais fácil para tentar construir, às pressas, uma imagem administrativa mais robusta — ainda que às custas do futuro financeiro do município.

E esse é outro ponto grave. Endividar Jaboatão não significa apenas pegar dinheiro emprestado hoje. Significa comprometer investimentos, limitar ações futuras e impor ao próximo governo — independente de quem seja — a responsabilidade de pagar a conta. A cidade não pode ser usada como plataforma de campanha, e muito menos seu orçamento pode ser manipulado conforme conveniências eleitorais.

Os moradores de Jaboatão têm o direito de saber onde está sendo aplicado o orçamento bilionário, por que a administração não consegue transformar R$ 2,4 bilhões em serviços eficientes e por que, diante da ineficiência atual, o prefeito acredita que mais R$ 100 milhões serão a solução. A cidade merece respostas, não dívidas. Merece planejamento, não improviso eleitoral. Merece transparência, não justificativas genéricas.

Diante de um orçamento de R$ 2,4 bilhões e da proposta de um empréstimo de R$ 100 milhões em pleno ano pré-eleitoral, cabe aos vereadores de Jaboatão assumir a responsabilidade histórica que lhes compete. Não é momento para omissão, acordos de bastidores ou votos automáticos. Os parlamentares precisam compreender que cada assinatura, cada voto e cada silêncio terá impacto direto no futuro financeiro da cidade. Aprovar um empréstimo sem transparência, sem detalhamento técnico e sem justificativa convincente significa compactuar com um possível endividamento injustificável, que recairá sobre a população pelos próximos anos. Os vereadores foram eleitos para fiscalizar, questionar e proteger o interesse público — e não para agir como carimbadores de projetos que afetam profundamente o presente e o futuro de Jaboatão dos Guararapes.

Antes de contrair qualquer empréstimo, Mano Medeiros precisa apresentar, de forma clara, técnica e pública, como está usando os recursos que já tem. Porque, no contexto atual, pedir mais R$ 100 milhões às vésperas de um ano eleitoral e com uma pré-candidata dentro da própria casa não parece uma decisão administrativa — parece estratégia política. E Jaboatão dos Guararapes não pode continuar pagando a conta dessa falta de prioridade, dessa falta de planejamento e dessa falta de respeito com o dinheiro público.

A pergunta que não quer calar: é coincidência demais Mano buscar R$ 100 milhões justamente no ano que antecede as eleições?

Postar um comentário

0 Comentários