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Trump e Lula discutem acordo entre Brasil e EUA

Encontro entre Lula e Trump em Kuala Lumpur foca nas tarifas às exportações brasileiras: diálogo franco visa suspensão e aprofundamento da cooperação econômica.

Lula e Trump
Na Malásia, o presidente Lula afirmou que o encontro com Trump foi ‘franco e construtivo’ para exportações. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Na tarde de domingo (26 de outubro), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou em Kuala Lumpur com o presidente Donald Trump para tratar das tarifas impostas pelas autoridades americanas às exportações brasileiras. O encontro, descrito por Lula como “franco e construtivo”, marcou uma guinada no diálogo entre Brasil e Estados Unidos. Segundo o governo brasileiro, as tarifas carecem de base técnica e desconsideram o fato de que os EUA mantêm superávit na balança comercial frente ao Brasil. 

Contexto da disputa comercial

A imposição de tarifas elevadas por parte dos EUA às exportações brasileiras — que teriam sido aumentadas para cerca de 50% em alguns setores — desencadeou preocupação em Brasília, que considera tais medidas injustificadas.  O Brasil alegou que, ao longo de 15 anos, os EUA registraram um superávit de aproximadamente US$ 410 bilhões com o país.  Em reação, o Brasil cogitou aplicar sua nova “Lei da Reciprocidade” para responder às tarifas americanas — embora, até o momento, tenha optado pela via negociada. 

De acordo com o chanceler brasileiro Mauro Vieira, o presidente Lula iniciou dizendo que “não havia assunto proibido” e renovou o pedido de suspensão temporária das tarifas impostas pelas autoridades americanas, assim como da aplicação da Lei Magnitsky a algumas autoridades brasileiras. Ele afirmou estar “pronto para conversar”. Segundo Mauro Vieira, ambos os líderes acordaram que suas equipes se reuniriam imediatamente para avançar nas negociações. 

Já o presidente Trump afirmou que “deveríamos ser capazes de fazer alguns bons negócios para ambos os países” e que as equipes americanas e brasileiras poderiam concluir um acordo relativamente rápido. 

Múltiplos interesses em jogo

Para o Brasil, a suspensão das tarifas é uma prioridade imediata. O país argumenta que as medidas americanas não apenas afetam diretamente exportadores brasileiros — como nos setores de carnes, café e etanol — mas também geram efeitos indiretos na cadeia de comércio global. Por outro lado, os EUA veem nas tarifas uma alavanca de poder para negociar não apenas a relação bilateral, mas também questões mais amplas de comércio internacional e de política externa.

Além dos temas puramente econômicos, a reunião abordou aspectos diplomáticos mais amplos. A presente menção à lei Magnitsky, que permite sanções contra autoridades estrangeiras envolvidas em violações de direitos humanos, insere a pauta comercial em um contexto político e jurídico. O Brasil defende que a aplicação dessa lei a autoridades brasileiras — no caso, ministros do Supremo Tribunal Federal — é “injusta”, dado que teria havido respeito ao devido processo legal.

Ministros e representantes dos dois países devem seguir ainda hoje em Kuala Lumpur com reuniões técnicas para detalhar os setores específicos, estabelecer cronograma e definir se haverá ou não a suspensão temporária das tarifas durante o processo de negociação. O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Rosa, acentuou que o diálogo foi marcadamente franco e destacou o papel estratégico que o Brasil tem na América do Sul e no hemisfério. Segundo ele, o Brasil se coloca à disposição para colaborar com os EUA em temas que vão além da exportação.

Visão de especialistas

Analistas de comércio internacional indicam que a disposição de Trump em negociar pode refletir dois fatores principais: a pressão sobre cadeias de exportação (por exemplo carnes brasileiras que agora enfrentam tarifas mais altas nos EUA) e o cenário global de competição com outras economias, especialmente a China. Já do lado brasileiro, especialistas ressaltam que o país busca não apenas reverter as tarifas, mas também consolidar canais mais robustos de comércio bilateral, diversificação de mercados e cooperação em matérias como minerais estratégicos — o que aparece como um trunfo da África-Leste asiática e América do Sul.

Se o diálogo resultar em suspensão ou redução das tarifas, exportadores brasileiros poderão retomar com maior competitividade o acesso ao mercado americano, o que representaria impacto positivo para setores vulneráveis ao câmbio e à tributação elevada. Por outro lado, se as negociações se arrastarem ou não houver concessões de ambas as partes, existe risco de escalada de retaliações, o que poderia agravar a tensão já existente entre as economias. No cenário global, uma disputa comercial Brasil-EUA pode afetar cadeias de exportação para terceiros mercados, alterar rotas logísticas e gerar instabilidade para os agentes econômicos.

A reunião entre Lula e Trump em Kuala Lumpur marca um momento importante na relação comercial entre Brasil e Estados Unidos. A palavra-chave tarifas esteve no centro do diálogo, como mecanismo de pressão e de negociação. Embora os detalhes ainda precisem ser definidos, o fato de ambos os lados demonstrarem disposição para negociar já configura avanço. Resta agora acompanhar se o Brasil obterá a suspensão temporária das tarifas enquanto o diálogo avança — e se esse encontro resultará em efeitos concretos para exportadores, para a balança comercial e para a cooperação econômica bilateral.

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