Reconhecido pela OMS, o lipedema afeta até 12% das brasileiras. Encontro em São Paulo promove ciência e acolhimento sobre o tema.
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| Encontro em São Paulo propõe nova abordagem sobre o lipedema, ainda visto como problema estético. Foto: Divulgação |
Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2019, o lipedema é uma doença inflamatória crônica que causa dor e acúmulo anormal de gordura, afetando principalmente as pernas e braços. Apesar dos avanços na medicina, a condição ainda é pouco conhecida e, muitas vezes, tratada como problema estético no Brasil.
Para promover informação, acolhimento e empatia, um grupo de especialistas e pacientes realiza, no dia 6 de dezembro, em São Paulo, o encontro “Lipedema: Acolhimento, Saúde e Transformação”. O evento acontecerá no espaço Aflora.Co, localizado dentro do restaurante Purana.Co, e busca ampliar o debate sobre diagnóstico, tratamento e qualidade de vida das mulheres afetadas pela doença.
A busca por visibilidade e compreensão
De acordo com a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), o lipedema pode afetar até 12% das mulheres brasileiras. No entanto, o número real pode ser ainda maior, já que a maioria dos casos permanece sem diagnóstico.
Estudos publicados na revista científica Phlebology estimam que 8,8 milhões de mulheres no Brasil apresentam sintomas compatíveis com a doença. Globalmente, a Sociedade Internacional de Linfologia (ISL) alerta que mais de 80% das mulheres com lipedema ainda não foram diagnosticadas — uma lacuna que favorece o agravamento de sintomas físicos e emocionais.
Entre os sinais mais comuns estão dor ao toque, formação fácil de hematomas, inchaço persistente e dificuldade para emagrecer, mesmo com alimentação equilibrada e prática de exercícios.
Evento une ciência, empatia e práticas terapêuticas
Idealizado pela fisioterapeuta Dra. Mariana Milazzotto, mestre em Ciências Médicas e referência nacional no tratamento clínico do lipedema, e pela enfermeira Evania Mendes, o encontro pretende oferecer informação de qualidade e acolhimento emocional às pacientes.
A programação inclui palestras sobre diagnóstico e tratamento, rodas de conversa entre especialistas e mulheres diagnosticadas, práticas de yoga terapêutica para alívio da dor e oficinas de autocuidado, que abordam escovação a seco, auto drenagem e exercícios guiados.
Além disso, haverá orientação nutricional funcional, com foco em estratégias acessíveis para redução da inflamação e melhoria da qualidade de vida.
“O lipedema não afeta apenas o corpo físico, mas também a autoestima, a rotina e as relações sociais. O diagnóstico correto representa o início de uma nova fase de conhecimento e autocuidado”, explica a fisioterapeuta Mariana Milazzotto.
Do diagnóstico ao acolhimento
Embora o lipedema seja reconhecido como doença pela OMS, muitas mulheres ainda enfrentam desinformação e estigma. A condição é frequentemente confundida com obesidade ou retenção de líquidos, o que atras a o tratamento e aumenta o sofrimento físico e emocional das pacientes.
Para Mariana, o encontro tem um caráter simbólico e transformador:
“Encerramos o ano com um espaço dedicado ao autocuidado e à troca entre mulheres que compartilham a mesma condição. Cuidar de si não é vaidade — é um ato de consciência e saúde.”
A escolha do local, o Aflora.Co, reforça o conceito de integração entre corpo, mente e nutrição consciente, já que o espaço é ligado ao Purana.Co, restaurante reconhecido por sua alimentação plant-based, 100% vegana e sem glúten.
Informação e empatia como caminhos para a mudança
Especialistas apontam que a falta de reconhecimento médico e social do lipedema agrava os impactos psicológicos. Muitas pacientes relatam sentimentos de frustração, culpa e invisibilidade, por não encontrarem respostas adequadas para suas dores.
Nesse contexto, eventos como o promovido por Mariana Milazzotto são fundamentais para dar visibilidade à doença, estimular políticas públicas de saúde e formar profissionais mais preparados para o diagnóstico precoce.
“Quando falamos sobre o lipedema, abrimos espaço para que milhares de mulheres deixem de se sentir invisíveis. Informação salva, acolhimento transforma e o movimento coletivo é o que realmente muda a realidade”, conclui Mariana.
Serviço
O lipedema, apesar de sua alta incidência entre mulheres, ainda carece de visibilidade e reconhecimento. Iniciativas que unem ciência, empatia e práticas de autocuidado ajudam a quebrar estigmas e a promover saúde integral e bem-estar emocional. O encontro em São Paulo simboliza um importante passo rumo à conscientização e à transformação da forma como o país encara essa condição crônica.

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