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Opinião - O recado que vem de Nova York contra a extrema-direita e o imperialismo de Trump

Vitória de Zohran Mamdani em Nova York simboliza resistência global à extrema-direita e ao imperialismo de Donald Trump.

Zohran Mamdani
Zohran Mamdani faz história como prefeito mais jovem de NY. Foto: Reuters/Kylie Cooper

Por: Sanchilis Oliveira.

A vitória de Zohran Mamdani para a prefeitura de Nova York vai muito além de um simples resultado eleitoral. É um recado nítido e potente que ecoa para dentro e fora dos Estados Unidos: há um cansaço crescente com o discurso de ódio, o autoritarismo e o projeto imperialista que marcaram os últimos anos da política americana sob a influência da extrema-direita liderada por Donald Trump.

Num contexto global em que o conservadorismo radical tenta se reinventar e se infiltrar nas estruturas democráticas, Nova York — uma das cidades mais plurais e simbólicas do planeta — decidiu abraçar a diversidade e a juventude como força política transformadora. Eleger um muçulmano, descendente de imigrantes africanos e socialista declarado, é uma resposta histórica ao medo, ao preconceito e ao nacionalismo excludente que Trump tentou cristalizar como identidade nacional americana.

Uma cidade que reafirma sua vocação cosmopolita

Nova York sempre foi um microcosmo do mundo — um espaço onde as culturas se misturam, onde o estrangeiro encontra lugar e onde a diferença é parte da rotina. Ao escolher Mamdani, os nova-iorquinos reafirmaram esse espírito.

Mais de 2 milhões de eleitores, o maior número desde 1969, foram às urnas para dizer que a cidade não aceita retrocessos. E o fizeram com um gesto que transcende a política local: votaram contra o medo e pela esperança.

Em tempos de desinformação e manipulação ideológica, uma candidatura progressista como a de Mamdani vencer num cenário tão competitivo — enfrentando o ex-governador Andrew Cuomo e o republicano Curtis Sliwa — mostra que há espaço para um novo pacto civilizatório baseado em justiça social, solidariedade e respeito à diferença.

O império em crise e o despertar da consciência coletiva

O império americano, que há décadas tenta exportar uma imagem de supremacia moral e política, vive um momento de contradições profundas. As desigualdades internas, a crise habitacional, o racismo estrutural e a violência urbana expõem as feridas de uma sociedade que o discurso trumpista tentou mascarar com patriotismo vazio e xenofobia travestida de “orgulho nacional”.

A ascensão de Mamdani representa, portanto, um rompimento simbólico com essa narrativa imperial. Ele traz para o centro do poder local um conjunto de ideias que desafiam o status quo: defesa da Palestina, transporte público gratuito, reforma policial e redistribuição de renda.

Tais propostas incomodam não apenas a direita americana, mas também o establishment econômico que se alimenta das desigualdades. Nova York, epicentro financeiro do planeta, será agora governada por alguém que questiona os privilégios das elites e defende políticas públicas voltadas às maiorias. Isso é, por si só, revolucionário.

Trump e o medo da mudança

A reação de Donald Trump — que chamou Mamdani de “comunista” e ameaçou cortar verbas federais para a cidade — é reveladora. O medo da direita extrema não é de um prefeito “radical”, mas do exemplo que ele pode representar.

Porque o que nasce em Nova York tende a reverberar pelo mundo. E quando uma metrópole global escolhe um líder jovem, progressista e de origem imigrante, ela rompe simbolicamente com o imperialismo cultural que a própria América disseminou durante décadas.

Mamdani, com apenas 34 anos, mostra que a juventude pode sim ocupar o poder — e fazê-lo com responsabilidade, empatia e visão social. A tentativa de desqualificá-lo como “comunista” segue a velha cartilha da extrema-direita: atacar quem propõe inclusão e rotular qualquer mudança como ameaça.

Um recado global

O recado de Nova York é, portanto, um alerta para o mundo: a extrema-direita pode ter força nas redes, mas está longe de ser unanimidade nas ruas. Quando as pessoas vão às urnas com consciência política, o medo perde força.

Em um planeta ameaçado pelo autoritarismo, pela intolerância religiosa e pelo desmonte ambiental, a eleição de Mamdani é um sopro de resistência. Assim como Lula no Brasil, Gustavo Petro na Colômbia e Gabriel Boric no Chile, o novo prefeito de Nova York simboliza uma geração que acredita em políticas públicas inclusivas e na reconstrução da democracia a partir das margens.

A democracia, afinal, não se fortalece apenas com instituições — mas com pessoas que ousam sonhar diferente.

Quando Nova York fala, o mundo ouve

A vitória de Zohran Mamdani é um acontecimento local com impacto global. Ela expressa o desejo de uma sociedade que, mesmo mergulhada nas contradições do capitalismo avançado, ainda acredita em justiça, empatia e diversidade como pilares da política.

E quando a cidade que simboliza o poder econômico e cultural dos Estados Unidos escolhe um líder muçulmano, jovem e socialista, o mundo entende o recado:
o império pode ainda ter armas e dinheiro, mas já não tem o monopólio da esperança.

A pergunta que não quer calar é: será que o grito de mudança que ecoa de Nova York pode inspirar outras nações a repensarem seus próprios caminhos políticos?

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