Decisão remove Zé e Wolney Queiroz após três décadas no comando estadual do PDT.
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| Decisão envolve Lupi, Zé Queiroz, Wolney e Isabella de Roldão, exonerados da direção. Foto: Divulgação |
O comando do PDT em Pernambuco passou por uma das mudanças mais significativas de sua história recente. O presidente nacional da legenda, Carlos Lupi, destituiu o então presidente estadual, Zé Queiroz, e o vice-presidente, o ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, além de dissolver toda a composição do diretório estadual. A decisão, divulgada na semana passada, encerra um ciclo de mais de três décadas em que pai e filho exerceram grande influência sobre os rumos do partido no estado.
Segundo documentos internos aos quais a reportagem teve acesso, Lupi nomeou uma comissão provisória para conduzir o PDT-PE e assumiu ele próprio a presidência estadual interina. A nova formação inclui outros nomes alinhados à direção nacional e deverá vigorar até que novas decisões sejam tomadas nas reuniões marcadas para esta sexta (5) e sábado (6), no Rio de Janeiro, onde serão debatidos diretórios provisórios em diversos estados.
Contexto político e histórico
O PDT em Pernambuco vinha há anos sob liderança do grupo político de Zé e Wolney Queiroz, tradicional família política de Caruaru. Zé Queiroz, ex-prefeito do município e figura histórica da sigla, exercia a presidência estadual desde os anos 1990. Em 2023, ele assumiu novamente o posto após o filho, Wolney, deixar a função para tomar posse como ministro da Previdência no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — cargo anteriormente ocupado pelo próprio Carlos Lupi.
Na transição, Wolney passou ao posto de vice-presidente estadual. Ambos, contudo, mantiveram forte influência na organização e nas decisões estratégicas do partido, incluindo articulações para as eleições municipais de 2024 e projeções para o cenário eleitoral de 2026.
A destituição simultânea de pai e filho, somada à dissolução do diretório estadual, representa uma das intervenções mais profundas na história recente do partido no estado.
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| Lupi assume direção provisória do PDT-PE e afasta principais lideranças locais. Imagem: Justiça Eleitoral |
Decisão de Lupi e justificativas apresentadas
A direção nacional não divulgou nota pública detalhando as razões da intervenção. No entanto, fontes ligadas ao PDT afirmam que Carlos Lupi pretende promover uma reestruturação nacional, padronizando diretórios provisórios onde há divergências internas ou dificuldades de alinhamento com a executiva nacional.
De acordo com lideranças consultadas off the record, Lupi teria considerado que o diretório estadual de Pernambuco apresentava dificuldades de comunicação com a direção nacional, além de divergências sobre estratégias eleitorais e posicionamentos políticos recentes. Nenhuma dessas informações foi oficialmente confirmada pelo PDT.
A reportagem entrou em contato com os representantes do diretório nacional, que informaram que decisões mais detalhadas serão apresentadas após as reuniões desta sexta e sábado, no Rio de Janeiro. O objetivo, segundo a assessoria, é “fortalecer o PDT nos estados e garantir alinhamento interno visando os próximos ciclos eleitorais”.
Posicionamento do grupo de Zé e Wolney Queiroz
Até o fechamento desta edição, Zé Queiroz e Wolney Queiroz não haviam se pronunciado oficialmente sobre a destituição. Pessoas próximas afirmam que ambos receberam a decisão com surpresa, apesar de já existir tensão crescente nos bastidores. Há expectativa de que o grupo divulgue nota oficial após as reuniões no Rio de Janeiro.
Integrantes da ala pernambucana afirmam que o diretório estadual havia apresentado resultados positivos nas eleições municipais de 2024 e vinha trabalhando na reorganização do partido em diversas cidades. Eles defendem que o histórico de mais de 30 anos no comando do PDT em Pernambuco é prova da estabilidade e representatividade do grupo no estado.
A secretária de Trabalho e Qualificação Profissional do Recife, Isabella de Roldão, também foi retirada da composição. Ela era considerada liderança em ascensão dentro da sigla e vinha trabalhando para fortalecer a presença do PDT na capital.
Repercussão interna e efeitos para 2026
A intervenção provocou reações distintas entre filiados e lideranças estaduais. Parte do partido avalia que a medida pode gerar instabilidade interna no curto prazo, especialmente diante da proximidade das articulações para as eleições de 2026. Outra ala, alinhada à direção nacional, considera que a renovação pode fortalecer o PDT.
Especialistas em ciência política ouvidos pela reportagem destacam que intervenções partidárias são comuns no cenário brasileiro, sobretudo quando há disputas internas por espaço e alinhamento estratégico. Segundo análise da cientista política Marta Barreto, da UFPE, “mudanças bruscas de direção podem alterar o peso de alianças regionais, mas nem sempre significam perda de força do partido, dependendo da capacidade de reorganização”.
A dissolução do diretório estadual deixa indefinida, por ora, a condução das próximas articulações eleitorais em Pernambuco. Questões relacionadas à montagem de chapas proporcionais, alianças municipais e definição de pré-candidaturas podem sofrer impactos nos próximos meses.
Reuniões no Rio de Janeiro
O PDT marcou para esta sexta (5) e sábado (6) uma série de reuniões no Rio de Janeiro para tratar dos diretórios estaduais que se encontram em situação provisória. Pernambuco será um dos temas centrais na pauta.
Segundo a assessoria nacional, as reuniões devem encaminhar “a consolidação das direções estaduais provisórias, visando estabilidade organizacional antes do início do calendário eleitoral de 2026”.
As decisões finais sobre a composição do PDT em Pernambuco devem ser anunciadas após esses encontros.
A destituição de Zé e Wolney Queiroz do comando do PDT em Pernambuco marca um ponto de inflexão na história recente do partido no estado. Após mais de 30 anos sob a liderança do grupo, a sigla passa agora por uma fase de transição conduzida diretamente pelo presidente nacional, Carlos Lupi.
A medida, embora ainda sem justificativas detalhadas, abre espaço para reestruturações e pode redefinir os rumos do PDT no processo eleitoral de 2026. Os próximos passos dependerão das decisões que serão tomadas nas reuniões no Rio de Janeiro, onde a direção nacional pretende consolidar diretórios provisórios e ajustar estratégias políticas.
Enquanto isso, lideranças estaduais aguardam novos desdobramentos e eventuais explicações formais. O cenário permanece aberto, e seus efeitos no tabuleiro político pernambucano só serão plenamente compreendidos nos próximos meses.


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