Trump e Lula se aproximam em um encontro estratégico que deixou Bolsonaro de lado. Entenda os interesses econômicos por trás da aliança.
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| Lula virou interlocutor de Trump em um tabuleiro movido por dinheiro e influência econômica. Foto: Ricardo Stuckert / PR |
O recente encontro entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, em Kuala Lumpur, chamou a atenção da comunidade internacional e provocou uma reviravolta nas relações políticas entre os dois países. O que parecia improvável — uma aproximação entre dois líderes com trajetórias ideológicas opostas — revelou-se um movimento pragmático, guiado por interesses econômicos e estratégicos.
Enquanto a internet fervia com análises ideológicas, bastidores diplomáticos mostraram que dinheiro, poder e timing político pesaram mais do que qualquer alinhamento partidário.
Do rompimento à aproximação: o que mudou
Durante o governo Bolsonaro, Donald Trump manteve proximidade simbólica com o Brasil, marcada por discursos de afinidade ideológica e apoio mútuo em pautas conservadoras. No entanto, a mudança de cenário global e a disputa comercial com a China alteraram o tabuleiro.
Segundo analistas da Brookings Institution e da Foreign Policy, Trump busca reposicionar sua imagem internacional antes das eleições norte-americanas. E, nesse contexto, Lula representa uma peça-chave: o Brasil voltou a ter papel relevante na diplomacia mundial, especialmente no fornecimento de alimentos e commodities estratégicas para os Estados Unidos.
Bolsonaro fora da pauta
Questionado sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, Trump foi direto: “Isso não te interessa”. A resposta curta e evasiva marcou um distanciamento simbólico.
Durante anos, Eduardo Bolsonaro tentou manter canais abertos com o ex-presidente norte-americano, mas, segundo fontes diplomáticas, “diplomacia não se faz por aplicativo”.
Enquanto isso, figuras do empresariado brasileiro, como Jorge Paulo Lemann, André Esteves e Joesley Batista, atuaram para reaproximar Brasília e Washington, reforçando a imagem de estabilidade econômica e política do Brasil.
Negócios à frente da ideologia
As tarifas de 50% impostas sobre produtos brasileiros durante o governo Trump não foram, como muitos acreditavam, uma retaliação ideológica, mas uma estratégia de barganha comercial. O ex-presidente dos EUA costuma utilizar tarifas como instrumento de negociação, especialmente quando o tema é o controle de preços domésticos.
“Trump entende o valor do agronegócio brasileiro para o equilíbrio do mercado americano”, explica Mark Weisbrot, economista do Center for Economic and Policy Research (CEPR). “A carne, a soja e as proteínas brasileiras são cruciais para conter a inflação alimentar nos EUA.”
Nesse contexto, Lula surge como interlocutor pragmático. Diferente da retórica de confronto ideológico, o presidente brasileiro tem defendido uma diplomacia de “parcerias produtivas”, baseada em resultados econômicos e estabilidade política.
O papel do empresariado brasileiro
Dias antes do encontro, representantes de grandes conglomerados brasileiros se reuniram com interlocutores americanos para discutir investimentos, exportações e fluxo financeiro.
Fontes ligadas ao setor financeiro afirmam que Lemann busca previsibilidade para investimentos de longo prazo, enquanto Esteves e Joesley priorizam a redução de barreiras comerciais.
Essas conversas pavimentaram o terreno para o reencontro entre os dois líderes, consolidando o Brasil como um ator indispensável nas cadeias de produção global.
Geopolítica e imagem pública
O encontro também teve forte valor simbólico. Para Trump, posar ao lado de Lula representa uma tentativa de reforçar sua imagem internacional como negociador global, capaz de dialogar com líderes de diferentes espectros políticos.
Para Lula, a foto com o ex-presidente dos EUA sinaliza a reintegração do Brasil ao centro das negociações internacionais — um passo importante para consolidar sua política externa.
Segundo a analista política americana Fiona Hill, “Trump viu em Lula um personagem que enfrentou o sistema e voltou ao poder. Essa narrativa de superação é algo que ele admira e tenta replicar em sua própria trajetória”.
Do embate ideológico ao pragmatismo econômico
O encontro em Kuala Lumpur reforçou uma tendência crescente na política mundial: a substituição da fidelidade ideológica pelo pragmatismo econômico.
Enquanto setores políticos ainda travam disputas narrativas, governos e empresas buscam soluções práticas para os desafios da economia global — do preço dos alimentos ao fornecimento de energia.
Nesse sentido, a relação entre Trump e Lula reflete um realinhamento estratégico. A pauta central não é mais “quem apoia quem”, mas quem pode oferecer resultados concretos.
O silêncio que fala alto
Após o encontro, Trump publicou apenas uma frase em suas redes sociais:
“É uma grande honra estar com o presidente do Brasil.”
A ausência de menções a Bolsonaro ou a questões ideológicas foi interpretada por observadores internacionais como um sinal de mudança de prioridade.
Na geopolítica, silêncio pode significar muito. Neste caso, significou o fim de uma era e o início de uma nova fase de interlocução entre Brasil e Estados Unidos, mediada por interesses econômicos e estabilidade institucional.
Conclusão: dinheiro fala mais alto que discurso
O encontro entre Trump e Lula não simboliza uma mudança de valores, mas de estratégia. Enquanto parte do debate público permanece focada em paixões ideológicas, o poder real se move por interesses econômicos.
O Brasil, sob a liderança de Lula, voltou a ser um parceiro comercial relevante para os Estados Unidos. Trump, por sua vez, enxerga no país uma oportunidade para reduzir custos internos e melhorar sua imagem internacional antes das eleições americanas.
No fim, o encontro em Kuala Lumpur foi menos sobre ideologia e mais sobre negócios. E como dizem nos bastidores da diplomacia: quem entende o poder, segue o dinheiro, não o discurso.
Pergunta que não quer calar: Foi pragmatismo ou genialidade política o que Lula fez em Kuala Lumpur?

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