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Lula destaca crise climática como “tragédia do presente”

Na abertura da COP30, Lula alerta que a emergência climática já é uma tragédia do presente.

Lula na COP30
O presidente Lula durante a abertura da COP30: 'Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada. No ritmo atual, ainda avançamos rumo a um aumento superior a um grau e meio na temperatura global. Romper essa barreira é um risco que não podemos correr'. Foto: Ricardo Stuckert / PR

BELÉM (PA) — Com um apelo à união mundial no enfrentamento das desigualdades e na adoção de políticas urgentes baseadas na ciência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu, nesta segunda-feira (10), a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP30), em Belém, no Pará.

Em um discurso enfático, Lula afirmou que a emergência climática não é mais uma ameaça futura, mas uma tragédia presente que afeta principalmente as populações mais vulneráveis. “A emergência climática é uma crise de desigualdade. Ela aprofunda a lógica perversa que define quem é digno de viver e quem deve morrer”, disse o presidente.

O chefe do Executivo brasileiro deu as boas-vindas às delegações internacionais e destacou que o mundo precisa escolher o caminho da ação. “Mudar pela escolha nos dá a chance de um futuro que não é ditado pela tragédia. Devemos a nossos filhos e netos a oportunidade de viver em uma Terra onde seja possível sonhar”, declarou.

Desastres recentes e urgência de ação

Lula iniciou sua fala lembrando eventos climáticos extremos recentes, como o tornado que atingiu o município de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, com ventos de até 330 km/h, e o furacão Melissa, que devastou partes do Caribe.

“O furacão Melissa e o tornado do Paraná deixaram vítimas fatais e um rastro de destruição. Das secas e incêndios na África e na Europa às enchentes na América do Sul e no Sudeste Asiático, o aumento da temperatura global espalha dor e devastação”, alertou o presidente.

Segundo ele, os dados científicos confirmam que o aquecimento global já está alterando a vida de milhões de pessoas. “É preciso agir com base na ciência, e não em interesses econômicos de curto prazo”, reforçou Lula.

A “COP da verdade” e o papel da ciência

Ao definir a COP30 como “a COP da verdade”, Lula destacou a necessidade de combater o negacionismo climático e o avanço da desinformação. “Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”, afirmou.

O presidente foi precedido por um momento simbólico: a transferência da presidência da COP29, em Baku (Azerbaijão), para o diplomata André Corrêa do Lago, que agora conduz a conferência em nome do Brasil. O novo presidente da COP destacou que o multilateralismo e o espírito coletivo são fundamentais. “A palavra mutirão, de origem indígena brasileira, simboliza essa união. É através desse mutirão global que poderemos implementar as decisões desta e das conferências anteriores”, disse Corrêa do Lago.

Acordo de Paris e necessidade de acelerar compromissos

Lula também lembrou que o Acordo de Paris, firmado em 2015, foi um marco, mas alertou que o ritmo atual é insuficiente. “Sem o Acordo de Paris, o mundo estaria fadado a um aquecimento catastrófico de quase cinco graus até o fim do século. Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada”, avaliou.

O presidente reforçou que é necessário acelerar a transição energética e fortalecer o financiamento internacional para adaptação e mitigação dos efeitos climáticos. Ele defendeu a criação de um Conselho do Clima vinculado à ONU, capaz de garantir maior governança e monitoramento das metas ambientais.

Chamado de Belém e protagonismo da Amazônia

Entre as propostas apresentadas, Lula destacou o Chamado de Belém pelo Clima, documento que propõe a renovação dos compromissos globais com base em três frentes: cumprimento das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), fortalecimento da governança global e centralidade das pessoas nas políticas climáticas.

O presidente enfatizou que a Amazônia deve ocupar papel estratégico nessa agenda. “O bioma mais diverso da Terra é a casa de quase 50 milhões de pessoas, incluindo 400 povos indígenas. A floresta não é uma abstração, mas um território vivo que exige respeito e políticas de desenvolvimento sustentável”, disse.

Educação, cultura e ciência como caminhos

O embaixador André Corrêa do Lago reforçou que, apesar dos desafios, a humanidade tem condições de avançar. “O ser humano é essencialmente bom, mas é capaz de retrocessos. Mesmo assim, a ciência, a educação e a cultura são o caminho que devemos seguir”, afirmou.

Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC, também destacou o progresso desde o Acordo de Paris. “Há dez anos, estávamos desenhando um futuro de redução de emissões. Hoje, vemos resultados, mas ainda há muito a ser feito. Precisamos agir mais rápido e com mais solidariedade”, alertou.

Belém, palco da diversidade e do futuro climático

Ao final do discurso, Lula agradeceu ao povo paraense pela recepção e ressaltou o simbolismo de realizar a COP30 em Belém, no coração da Amazônia. “Quando vocês deixarem Belém, o povo da cidade permanecerá com os investimentos em infraestrutura. E o mundo poderá, enfim, conhecer a realidade amazônica”, afirmou.

O presidente convidou os participantes a conhecer a cultura e a culinária local. “Tirem proveito desta cidade, da alegria e da hospitalidade do povo paraense. E não se esqueçam de provar a maniçoba”, brincou.

A cerimônia de abertura contou ainda com apresentações culturais, incluindo a cantora Fafá de Belém e a ministra da Cultura, Margareth Menezes, que interpretaram “Emoriô”, de Gilberto Gil e João Donato — um gesto simbólico de união entre arte, natureza e resistência.

Ciência, solidariedade e ação imediata

A abertura da COP30 marcou um chamado à ação coletiva, em que o Brasil busca reafirmar seu papel de liderança no combate à crise climática. O discurso de Lula enfatizou que a luta contra o aquecimento global é inseparável da luta contra a desigualdade social.

Com o olhar voltado para o futuro e os pés fincados na realidade amazônica, o evento reforça a necessidade de que governos, empresas e sociedade civil atuem juntos em um verdadeiro “mutirão” global pela vida no planeta.

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