Lula defende na COP30 uma transição energética baseada em tripé: renováveis, pobreza energética e combustíveis sustentáveis até 2035.
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Triplicar a geração de energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030;
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Eliminar a pobreza energética em escala global; e
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Quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035, conforme o Compromisso de Belém.
“As decisões que tomarmos com relação ao setor energético definirão nosso sucesso ou nosso fracasso na batalha contra a mudança do clima”, afirmou Lula durante o discurso de abertura.
Revisão e desafios globais
Em tom de alerta, o presidente destacou que o progresso lento na redução de emissões é um sinal de que os acordos internacionais precisam ser cumpridos e de que as políticas econômicas devem estar alinhadas à sustentabilidade.
“Os incentivos financeiros muitas vezes vão no sentido contrário ao da sustentabilidade. No ano passado, os 65 maiores bancos se comprometeram a conceder 869 bilhões de dólares ao setor de petróleo e gás. Desde a adoção do Acordo de Paris, a participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global caiu apenas de 83% para 80%”, apontou.
O presidente ressaltou que o atual modelo global, ainda sustentado por combustíveis fósseis, “não é compatível com a sobrevivência do planeta”.
Pobreza energética: urgência humanitária
Outro eixo central do discurso foi o combate à pobreza energética, considerado por Lula um desafio social e ético de proporções globais.
“Dois bilhões de pessoas não têm acesso a combustíveis adequados para cozinhar e 660 milhões ainda dependem de lamparinas ou geradores a diesel nas periferias e comunidades rurais da América Latina, África e Ásia. São 200 milhões de crianças em escolas sem luz elétrica. Sem energia, não há conexão digital, hospitais funcionando ou agricultura moderna”, afirmou.
A proposta busca garantir justiça climática e inclusão energética, assegurando que o avanço tecnológico chegue também às populações mais vulneráveis.
Oportunidade de desenvolvimento e novos empregos
Lula também classificou a transição energética como uma oportunidade econômica sem precedentes, capaz de impulsionar o desenvolvimento sustentável e gerar empregos.
“Em 2023, o setor foi responsável por 10% do crescimento do PIB global e empregou 35 milhões de pessoas. É impossível discutir a transição energética sem falar dos minerais críticos, essenciais para baterias, painéis solares e sistemas de energia. Os países em desenvolvimento precisam participar de todas as etapas dessa cadeia global de valor”, destacou.
O presidente defendeu que a transição deve ser vista não como custo, mas como investimento estratégico para o futuro.
Conflitos e geopolítica: entraves à descarbonização
Em trecho contundente, Lula criticou o impacto dos conflitos armados sobre os esforços climáticos e denunciou o desvio de recursos que poderiam financiar a transição.
“O conflito na Ucrânia reverteu anos de esforços de redução de emissões e levou à reabertura de minas de carvão. Gastar com armas o dobro do que destinamos à ação climática é pavimentar o caminho para o apocalipse climático”, afirmou.
A fala reforçou a necessidade de cooperação multilateral e diplomacia ativa para que a agenda climática avance mesmo em contextos de crise.
Financiamento e acesso às tecnologias limpas
Lula defendeu mais financiamento climático e transferência de tecnologia aos países do Sul Global, que, segundo ele, sofrem com as consequências da crise sem ter responsabilidade proporcional sobre ela.
“Um processo justo, ordenado e equitativo de afastamento dos combustíveis fósseis demanda acesso a tecnologias e financiamento. Há espaço para explorar mecanismos inovadores, como troca de dívida por financiamento de iniciativas de mitigação climática e transição energética”, propôs.
O presidente cobrou responsabilidade das nações ricas no apoio financeiro e tecnológico aos países em desenvolvimento.
Catástrofe ou reconstrução: o chamado à ação
Encerrando seu discurso, Lula anunciou que o Brasil criará um Fundo Nacional de Transição Energética e Justiça Climática, com recursos provenientes dos lucros da exploração do petróleo, destinados a financiar ações de mitigação e adaptação.
“É tempo de diversificar nossas matrizes energéticas, ampliar as fontes renováveis e acelerar o uso de combustíveis sustentáveis. Os líderes devem decidir se o século XXI será lembrado como o século da catástrofe climática ou como o momento da reconstrução inteligente”, concluiu.
Importância e perspectiva
Contudo, especialistas alertam que o sucesso da proposta dependerá de financiamento consistente, inovação tecnológica e cooperação global para superar as resistências políticas e econômicas ainda presentes.

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