Ads

Todos os senadores do PSB votam por aliviar penas dos golpistas e de Bolsonaro

Voto unĂ¢nime da bancada do PSB no Senado apoia projeto que reduz penas de condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro.

Senadores do PSB
Senadores do PSB  Jorge Kajuru (GO), Chico Rodrigues (RR), FlĂ¡vio Arns (PR) e Cid Gomes (CE), votam a favor da dosimetria das penas de Bolsonaro e dos golpistas do 8 de janeiro de 2023. Foto: DivulgaĂ§Ă£o/Senado

Quando a histĂ³ria cobra posicionamento, nĂ£o hĂ¡ espaço para ambiguidades. Ainda assim, foi exatamente isso que a bancada do PSB no Senado escolheu oferecer ao paĂ­s ao votar integralmente a favor do PL da Dosimetria, projeto que reduz penas de condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro e que, na prĂ¡tica, tambĂ©m beneficia Jair Bolsonaro, condenado como lĂ­der de organizaĂ§Ă£o criminosa.

Para um partido que insiste em se autodefinir como de esquerda e democrĂ¡tico, o gesto nĂ£o Ă© apenas contraditĂ³rio. É revelador. Revela que, para o PSB, a democracia parece ter sabor de conveniĂªncia — e, neste caso, de covardia polĂ­tica.

O discurso progressista que nĂ£o resiste Ă  votaĂ§Ă£o

O PSB gosta de ocupar o centro do discurso progressista quando isso rende capital eleitoral. Defende a democracia nos palanques, repete palavras de ordem contra o autoritarismo e se apresenta como alternativa civilizada Ă  extrema direita. No entanto, quando o voto exige coragem, o partido recua.

A unanimidade da bancada — Jorge Kajuru (GO), Chico Rodrigues (RR), FlĂ¡vio Arns (PR) e Cid Gomes (CE) — nĂ£o deixa margem para dĂºvidas: nĂ£o foi um erro individual, foi uma escolha polĂ­tica coletiva.

E escolhas tĂªm consequĂªncias.

8 de janeiro nĂ£o foi excesso, foi projeto

Tratar o 8 de janeiro como um episĂ³dio passĂ­vel de indulgĂªncia penal Ă© reescrever a histĂ³ria recente. Aquilo nĂ£o foi descontrole de multidĂ£o, nem protesto radicalizado. Foi uma tentativa organizada de ruptura institucional, financiada, estimulada e politicamente orientada pelo bolsonarismo.

Ao votar por um projeto que suaviza punições, o PSB ajuda a construir a narrativa de que o ataque Ă  democracia foi apenas um “exagero”. Essa relativizaĂ§Ă£o Ă© perigosa, porque normaliza o golpismo e enfraquece o pacto democrĂ¡tico.

Bolsonaro no centro — ainda que finjam o contrĂ¡rio

Os defensores do voto recorrem Ă  velha estratĂ©gia da dissimulaĂ§Ă£o: dizem que o projeto nĂ£o Ă© sobre Bolsonaro. Mas a polĂ­tica nĂ£o se faz apenas com intenções declaradas, e sim com efeitos concretos.

O texto aprovado estabelece critĂ©rios que atingem diretamente condenações por liderança de organizaĂ§Ă£o criminosa, exatamente o enquadramento aplicado a Jair Bolsonaro pelo STF. Fingir que isso Ă© irrelevante Ă© subestimar a inteligĂªncia do eleitorado.

Ou, pior, apostar na sua desmobilizaĂ§Ă£o.

O flerte permanente com a direita

O que mais incomoda nĂ£o Ă© o voto isolado, mas o padrĂ£o. O PSB tem histĂ³rico de flexibilizar princĂ­pios quando o cenĂ¡rio polĂ­tico exige acomodaĂ§Ă£o. Em vez de enfrentar a extrema direita com clareza, prefere o caminho confortĂ¡vel do “nem tanto ao cĂ©u, nem tanto ao inferno”.

Esse comportamento pode parecer estratĂ©gico no curto prazo, mas produz um efeito corrosivo: esvazia o sentido da esquerda e enfraquece o campo democrĂ¡tico que diz representar.

JoĂ£o Campos
Presidente nacional do PSB JoĂ£o Campos. Foto: ClĂ¡udio Reis/PSB

A omissĂ£o do presidente nacional do PSB JoĂ£o Campos

Chama atenĂ§Ă£o, ainda, o silĂªncio da direĂ§Ă£o nacional do PSB diante da votaĂ§Ă£o do PL da Dosimetria. NĂ£o houve qualquer mobilizaĂ§Ă£o pĂºblica do presidente nacional da legenda, JoĂ£o Campos, nem do vice-presidente Geraldo Alckmin, para orientar a bancada do Senado ou fechar questĂ£o contra um projeto que beneficia condenados por atos golpistas. 

A ausĂªncia de posicionamento e de articulaĂ§Ă£o polĂ­tica, em um tema sensĂ­vel para a democracia brasileira, nĂ£o parece casual. Trata-se de uma omissĂ£o calculada, que preserva alianças, evita desgaste com setores conservadores e, ao mesmo tempo, cobra um alto custo simbĂ³lico para um partido que se apresenta como defensor intransigente do Estado DemocrĂ¡tico de Direito.

Democracia exige coragem, nĂ£o cĂ¡lculo

A democracia nĂ£o se sustenta com discursos mornos nem com votos envergonhados. Ela exige enfrentamento, memĂ³ria histĂ³rica e compromisso com a responsabilizaĂ§Ă£o de quem tentou destruĂ­-la.

Quando um partido que se diz socialista opta por aliviar a puniĂ§Ă£o de golpistas, ele nĂ£o estĂ¡ sendo moderado. EstĂ¡ sendo omisso. E omissĂ£o, em contextos autoritĂ¡rios, Ă© uma forma sofisticada de cumplicidade.

ConclusĂ£o: a fatura moral

Ao votar pela reduĂ§Ă£o das penas de quem atentou contra o Estado DemocrĂ¡tico de Direito, o PSB envia um recado claro: entre o risco do confronto polĂ­tico e o conforto da conciliaĂ§Ă£o, escolheu o segundo.

Mas a histĂ³ria nĂ£o absolve a covardia. E a democracia, quando tratada como moeda de troca, cobra seu preço — cedo ou tarde.

Para o PSB, neste episĂ³dio, a democracia nĂ£o teve gosto de luta. Teve sabor de covardia.

Pergunta que nĂ£o quer calar: Se partidos que se dizem democrĂ¡ticos como o PSB, aliviam a puniĂ§Ă£o de golpistas, quem afinal estĂ¡ disposto a defender a democracia quando isso cobra coragem?

Postar um comentĂ¡rio

0 ComentĂ¡rios