Na noite de quinta-feira, dia 20, o presidente do Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o governo brasileiro recebeu com satisfação a retirada, pelos Donald Trump e sua equipe dos Estados Unidos, das taxas impostas sobre determinados produtos brasileiros. Segundo o presidente, o Brasil está sabendo lidar com a pressão das tarifas e obteve respeito por parte dos EUA.
A medida dos Estados Unidos, formalizada por meio de uma ordem executiva que modifica a alíquota adicional sobre produtos agrícolas brasileiros, retira a sobretaxa de 40% sobre itens como café, chá, frutas tropicais, sucos, cacau, banana, tomate, laranja e carne bovina.
O presidente Lula discursou na abertura do Salão Internacional do Automóvel, em São Paulo, e disse:
“Quando o presidente dos EUA tomou a decisão de fazer a supertaxação, todo mundo entrou em crise e ficou nervoso. E eu não costumo tomar decisão com 39 graus de febre. Eu espero a febre baixar. Se você tomar decisão com febre, você vai cometer um erro.”
“E hoje estou feliz porque o presidente Trump começou a reduzir as taxações. E essas coisas vão acontecer na medida em que a gente consiga galgar respeito das pessoas, ninguém respeita quem não se respeita.”
O anúncio americano declara que a modificação das tarifas – conforme a ordem executiva da Casa Branca – foi tomada “após conversa por telefone” entre Trump e Lula, na qual “concordamos em iniciar negociações para abordar as questões identificadas no Decreto Executivo 14.323”.
O que muda para o Brasil
Para o setor agropecuário brasileiro, especialmente para exportadores de café, frutas tropicais, sucos e carne bovina, a retirada da tarifa de 40% representa uma redução significativa de barreiras de acesso ao mercado dos EUA. Segundo o comunicado da Casa Branca, os produtos listados antes sujeitos à sobretaxa deixarão de ser taxados sob os termos da nova ordem executiva.
O presidente Lula ressaltou que “o diálogo franco que mantive com o presidente Trump e a atuação de nossas equipes de negociação, formada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros Fernando Haddad e Mauro Vieira pelo lado brasileiro, possibilitaram avanços importantes”. Ele acrescentou que o passo é “na direção certa, mas precisamos avançar ainda mais” e que o foco continuará em “nossa soberania e o interesse dos trabalhadores, da agricultura e da indústria brasileira”.
Ponto de vista dos EUA
A administração dos Estados Unidos, por meio da referida ordem executiva, afirmou que a modificação é necessária “com base no status das negociações com o Governo do Brasil”.
Ainda assim, analistas apontam que a retirada da sobretaxa não significa que todas as disputas tarifárias tenham sido resolvidas. A negociação embutida na ordem executiva sugere que outras exigências ou ajustes ainda podem ser objeto de diálogo.
Reações e diferentes visões
Setor agroindustrial brasileiro: Em princípio, a retirada da taxa é vista como vitória, dado o impacto direto sobre exportadores de café, carne e frutas que enfrentavam barreiras elevadas para acessar o mercado americano.
Setor industrial e de exportação em geral: Alguns representantes alertam que apesar da medida, ainda persistem incertezas sobre quais produtos foram totalmente isentos, e se haverá efeitos de curto-prazo ou demanda adicional para absorver o incremento das exportações.
Especialistas em comércio internacional: Avaliam que a ação demonstra a eficácia da diplomacia brasileira em combinar pressão com negociação. Por outro lado, advertem que o cenário global permanece volátil, com risco de novos embates comerciais caso expectativas não sejam atendidas.
Críticos do governo brasileiro: Apontam que embora a retirada da tarifa seja positiva, o governo Lula precisará garantir que as exportações não fiquem dependentes da concessão americana e que se busque diversificação de mercados e fortalecimento interno da cadeia produtiva.
Importância política e simbólica
Para o presidente Lula, a retirada das tarifas reforça uma mensagem política: a de que “ninguém respeita quem não se respeita”. Essa afirmação vai além do âmbito comercial e toca a diplomacia e a percepção internacional do Brasil. Em discurso, ele enfatizou que o foco não é apenas na remoção da taxa, mas no “respeito” conquistado através de negociação e “postura de país”.
Essa dimensão simbólica é relevante porque, em passagens anteriores, o Brasil havia reagido com cautela à imposição de restrições americanas, optando inicialmente por diálogo e evitando retaliação imediata.
Apesar do alívio, permanecem algumas questões:
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A efetividade da retirada depende da clareza de quais produtos estão totalmente desonerados e se haverá impacto real sobre volumes e prazos de exportação.
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O Brasil precisará responder com reformas ou ações internas para aumentar a competitividade de seus setores exportadores, a fim de que a maior entrada nos EUA não se traduza apenas em volume, mas em valor agregado.
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Há risco de que novas tarifas ou revisões possam surgir se negociadores dos EUA quiserem contrapartidas ou se mudanças nas cadeias globais de valor exigirem ajustes.
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Do ponto de vista diplomático, o Brasil deve manter a postura assertiva de soberania, mas sem sinais de conflito aberto — conforme deixou claro Lula.
O governo brasileiro celebrou a retirada de uma sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros por parte dos Estados Unidos, interpretando o gesto como conquista diplomática e comercial. A ação signostica da negociação mostra que o Brasil busca tratar a política comercial e internacional com prudência e diálogo. Contudo, apesar do avanço, o caminho à frente exige que o país sustente os ganhos por meio de estratégia de exportação, diversificação de mercados e fortalecimento da produção. Em resumo: um passo importante foi dado — mas a jornada segue.
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