Cassação da base governista provoca disputa pela presidência da Câmara e ameaça governabilidade de Mary Gouveia.
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| Prefeita de Escada, Mary Gouveia (PL), ao fundo seu marido Jandelson Gouveia ex-prefeito. Foto: Divulgação |
A política de Escada vive um terremoto sem precedentes após a cassação dos vereadores da base governista da prefeita Mary Gouveia (PL). A manutenção das decisões pela Justiça Eleitoral, que anulou os votos das chapas do AGIR, PSDB/Cidadania e PRD, provocou uma reviravolta na composição da Câmara. O impacto não poderia ser maior: a prefeita perde sua sustentação, vê seu principal aliado — Zé Amaro da Alvorada (PRD), presidente da Câmara — ser cassado, e agora enfrenta um cenário de profunda instabilidade política. Com a posse de cinco novos vereadores, que tendem a ampliar a oposição, Escada entra em uma fase de tensão institucional com reflexos diretos na governabilidade do município.
O estopim da crise foi a confirmação, pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, em 24 de novembro de 2025, das decisões proferidas nos processos 0600477-94.2024.6.17.0019 e 0600468-35.2024.6.17.0019, que tratavam da fraude à cota de gênero. As Ações de Investigação Judicial Eleitoral apontaram uso de candidaturas femininas fictícias pelos partidos envolvidos, o que afetou todos os eleitos das respectivas chapas — inclusive a vereadora Tarlina Patrícia (PSDB), embora fosse uma candidata legítima. Como determina a legislação, quando há fraude, toda a chapa é invalidada, e os votos são anulados.
A derrubada de Zé Amaro e o efeito dominó na base governista
A cassação do presidente da Câmara, Zé Amaro da Alvorada, representa o maior baque político para Mary Gouveia desde o início de sua gestão. Zé Amaro não era apenas o comandante do legislativo: era o articulador principal da base, a figura que segurava votações, organizava a bancada e protegia o governo de derrotas internas. Sua queda desmonta a estrutura de apoio da prefeita, abre espaço para a oposição avançar e coloca o governo municipal em posição vulnerável.
Além de Zé Amaro, foram cassados Luis Henrique de Lima (PRD), Emanuel Messias da Silva (Agir), Márcio Luís de Souza (PSDB) e Tarlina Patrícia (PSDB). Todos perderam os mandatos após o TRE-PE rejeitar os recursos por intempestividade — os recorrentes apresentaram as peças fora do prazo legal de três dias, o que impediu qualquer análise de mérito.
Uma oposição ampliada e agressiva toma forma na Câmara
Antes da decisão, a oposição reunia apenas três nomes: Elias Ribeiro (PSB), Pedro Jorge (Avante) e Paulinho (Avante). A prefeita, portanto, trabalhava com uma maioria estável. Agora, com a posse dos novos vereadores, o quadro muda completamente.
Devem assumir:
Tia Jane (Mobiliza)
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Eduardo do Arretado (PL)
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Edite do Postinho (PMB)
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Antônio Rufino, conhecido como Binho (PSB)
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Irmão Luciano (DC)
A expectativa é que, desses cinco, a maioria já entre com postura oposicionista, elevando o número de vereadores contrários ao governo de 3 para 8. Esta ampliação transforma a Câmara em terreno hostil para Mary Gouveia, que enfrenta agora a possibilidade de ver travados projetos, bloqueadas nomeações e até enfrentamentos institucionais mais graves.
O fator decisivo, no entanto, está em duas figuras que ainda não têm posição definida: Antônio Rufino (Binho) e Eduardo do Arretado. Eles podem migrar para a base e impedir que a oposição domine a Casa. Mas também podem reforçar o bloco oposicionista, isolando a prefeita em definitivo. São dois votos que podem decidir o futuro político da gestão.
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| Vereadora Sandra Valéria (PMB) e o vereador Elias Ribeiro (PSB). Fotos: Divulgação |
A batalha pela presidência da Câmara: o epicentro da crise
Com a cassação de Zé Amaro, quem deve assumir interinamente a presidência é a vereadora Sandra Valéria (PMB), primeira secretária da Mesa Diretora. Sandra é aliada da prefeita e surge como o nome natural para disputar a presidência com apoio do governo.
Mary Gouveia sabe que perder a presidência da Câmara pode significar o caos administrativo. Uma Câmara comandada pela oposição teria poder para bloquear a gestão, instaurar CPIs, rejeitar contas, derrubar projetos estratégicos e criar um ambiente político insustentável. A prefeita, portanto, precisa garantir que Sandra Valéria seja eleita.
Na oposição, o nome mais forte é Elias Ribeiro (PSB), experiente, articulado e já tendo presidido o legislativo anteriormente. Ele tem apoio crescente e pode ser o candidato de consenso caso a oposição consiga fazer maioria formal após a posse dos novos vereadores.
Havia também a expectativa de que o vereador Dêda Móveis (PMB) pudesse ser o nome apoiado pelo presidente cassado Zé Amaro. No entanto, segundo informações de bastidores, Dêda teria rejeitado a possibilidade, preferindo não entrar na disputa — um movimento que, na prática, enfraquece ainda mais a estratégia de Mary Gouveia e favorece a oposição.
As falhas dos partidos e o custo da irresponsabilidade eleitoral
A crise atual não é apenas consequência política da cassação: é reflexo direto da irresponsabilidade dos partidos envolvidos no processo. AGIR, PSDB/Cidadania e PRD cometeram erros graves ao tentar cumprir a cota de gênero com candidaturas femininas fictícias. A Justiça Eleitoral identificou ausência de campanha, falta de movimentação financeira e votações nulas — elementos típicos da fraude.
Para completar, os partidos ainda erraram no básico: recorreram fora do prazo, perdendo a chance de fazer qualquer defesa. A cassação, portanto, não é obra da oposição nem fruto de perseguição. É resultado direto da falta de organização e de respeito às regras eleitorais por parte das legendas.
A virada inesperada contra Jandelson e Mary Gouveia
A política de Escada vive há anos um processo visível de centralização do poder nas mãos do ex-prefeito Jandelson Gouveia, marido da prefeita Mary Gouveia (PL). Mesmo sem ocupar formalmente um cargo eletivo, Jandelson exerce forte influência sobre decisões estratégicas do governo, articulações de bastidores e montagem das chapas partidárias. Essa condução concentrada gerou descontentamento entre aliados, que se sentiram preteridos ou politicamente engessados. O grupo governista, que já enfrentava desgaste natural após a vitória apertada de Mary Gouveia por apenas 114 votos em 2024, passou a conviver com disputas internas, escolhas controversas e distanciamento de lideranças que foram essenciais para o resultado eleitoral.
O desgaste se aprofundou após a cassação dos vereadores da base e a iminente posse dos suplentes. Mesmo sendo aliados históricos da prefeita e representantes de partidos que caminharam com ela na eleição, alguns desses futuros vereadores relataram articulações dos próprios Gouveia para prejudicá-los politicamente, inclusive em suas campanhas. Agora, com a Justiça Eleitoral alterando a composição da Câmara, o movimento parece ter voltado contra o clã: parte dos suplentes tende a assumir com postura crítica ao governo, e a nova configuração legislativa promete enfraquecer não apenas Mary, mas a própria influência de Jandelson, que perde o controle do tabuleiro que ajudou a montar. O que antes era um império político sustentado pela centralização e pela força dos bastidores se transforma rapidamente em um efeito dominó que ameaça a governabilidade da prefeita.
Mary Gouveia vive seu momento mais delicado na política
Com uma Câmara em processo de reconfiguração, uma base desmanchada, uma oposição ampliada e uma disputa explosiva pela presidência do legislativo, a prefeita enfrenta o momento mais crítico da administração. Sua capacidade de articulação será colocada à prova. Ela precisará negociar, convencer, reconstruir pontes — ou corre o risco de perder o controle político da cidade.
Escada entra em um período de alta tensão
A cassação dos vereadores da base governista não apenas altera a composição da Câmara Municipal — ela inaugura um capítulo de instabilidade política que deve marcar toda a gestão da prefeita Mary Gouveia. A disputa pela presidência da Casa pode se tornar uma verdadeira guerra política, com consequências diretas para o funcionamento da administração pública.
Escada vive, agora, dias decisivos, que definirão os rumos do município e o futuro da governabilidade da prefeita.
A pergunta que não quer calar: Até quando o clã Gouveia conseguirá manter o controle depois de ver sua própria articulação virar contra si?

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