Com a ida de Guilherme Boulos ao governo, o presidente do CNPq, Ricardo Galvão, pode assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados.
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Lula oficializa Boulos no governo e abre espaço para Ricardo Galvão no Congresso. Foto: Zeca Ribeiro. |
Com o anúncio do Palácio do Planalto de que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) assumirá a Secretaria-Geral da Presidência da República, abre-se a possibilidade de Ricardo Galvão, atual presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ocupar uma vaga na Câmara dos Deputados.
A definição ocorre em meio a uma reconfiguração política dentro do governo Lula, que busca fortalecer o diálogo com movimentos sociais e consolidar alianças estratégicas de olho nas eleições de 2026.
Possível mudança no CNPq
Ricardo Galvão, físico e professor titular aposentado da Universidade de São Paulo (USP), foi nomeado para o comando do CNPq em fevereiro de 2023. A possível mudança, no entanto, ainda não está confirmada.
Fontes próximas ao cientista afirmam que ele avalia com cautela a decisão, já que sua gestão à frente do CNPq tem sido marcada por esforços para recuperar investimentos em ciência e tecnologia, áreas duramente afetadas nos últimos anos.
O CNPq é uma das principais instituições federais de fomento à pesquisa científica e tecnológica no país, desempenhando papel estratégico na formação de pesquisadores e no financiamento de projetos inovadores.
Trajetória e relevância científica
Ricardo Galvão é reconhecido por sua contribuição à ciência brasileira. Doutor em física de plasmas e pesquisador com carreira internacional, ele já ocupou cargos de destaque como diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e presidente da Sociedade Brasileira de Física.
Sua trajetória é marcada pelo comprometimento com a defesa da ciência e da autonomia das instituições públicas de pesquisa. Durante sua gestão no INPE, Galvão ganhou notoriedade ao defender a credibilidade dos dados sobre desmatamento na Amazônia, divulgados pelo instituto em 2019.
Conflito com o governo Bolsonaro
Em 2019, Galvão tornou-se um dos principais nomes da resistência científica ao governo do então presidente Jair Bolsonaro. Na época, Bolsonaro acusou o INPE de “mentir” sobre o aumento do desmatamento na Amazônia e de “agir a serviço de ONGs”.
O cientista respondeu publicamente às críticas, defendendo os dados técnicos e transparentes produzidos pela equipe do INPE. O episódio resultou em sua demissão do cargo de diretor, mas também reforçou sua imagem como defensor da ciência baseada em evidências.
O caso teve repercussão internacional e mobilizou a comunidade científica, que manifestou solidariedade a Galvão. A defesa da autonomia do INPE tornou-se símbolo da luta contra a desinformação e a interferência política na pesquisa científica.
Boulos assume Secretaria-Geral da Presidência
A nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência foi confirmada após reunião no Palácio do Planalto, realizada na segunda-feira (20). O encontro contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do então ministro Márcio Macêdo, além de Rui Costa (Casa Civil), Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) e Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação Social).
Boulos assumirá o posto que estava sob comando de Márcio Macêdo, e sua entrada no governo é vista como uma estratégia política para fortalecer o vínculo do Planalto com movimentos sociais, especialmente o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), do qual é um dos fundadores.
Impacto político e cenário futuro
A eventual ida de Ricardo Galvão à Câmara dos Deputados representaria uma interseção entre ciência e política, trazendo ao Legislativo uma voz com forte histórico técnico e compromisso com a pesquisa pública.
Por outro lado, sua saída do CNPq poderia abrir um vácuo de liderança em um momento de reconstrução da política científica nacional. Desde 2023, o órgão tem buscado reverter cortes orçamentários e retomar o financiamento de bolsas e projetos de pesquisa interrompidos nos últimos anos.
Analistas avaliam que o governo Lula deverá ponderar o impacto político e técnico da possível substituição antes de confirmar qualquer mudança. Ainda não há informações oficiais sobre quem poderia suceder Galvão no comando do CNPq caso ele assuma o mandato parlamentar.
Reaproximação com a comunidade científica
A nomeação de Galvão para o CNPq, em 2023, foi vista como um gesto de reaproximação do governo Lula com a comunidade científica, após um período de distanciamento durante o governo anterior.
Desde então, o físico tem defendido o aumento do orçamento público para ciência, o fortalecimento da CAPES e do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), além da valorização dos pesquisadores e da autonomia das universidades públicas.
Sua eventual ida ao Legislativo poderia reforçar o debate sobre políticas públicas voltadas à inovação tecnológica, sustentabilidade e educação científica, temas que ganham relevância diante dos desafios climáticos e econômicos atuais.
A confirmação da ida de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência sinaliza uma nova fase na articulação política do governo Lula. Caso Ricardo Galvão decida assumir o mandato na Câmara dos Deputados, a transição poderá representar uma integração inédita entre ciência e política, com potencial para fortalecer o debate sobre conhecimento, sustentabilidade e desenvolvimento nacional.
Por enquanto, a decisão permanece em aberto, aguardando confirmação oficial do CNPq e do PSOL.
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