Seminário sobre investimentos sustentáveis no Nordeste destaca powershoring como estratégia para economia verde, novas indústrias e oportunidades de financiamento.
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Governo, setor privado e sociedade civil debatem powershoring para indústrias de baixo carbono. Foto: Divulgação |
A região Nordeste se apresenta como polo estratégico para investimentos sustentáveis no Brasil. Com elevado potencial em energia renovável e infraestrutura logística promissora, o Nordeste atrai atenção de atores públicos, privados e sociedade civil interessados em consolidar indústrias verdes e projetos de baixo carbono.
Contextualização do seminário
No dia 23 de outubro, em Fortaleza, será realizado o seminário “Como escalar e acelerar os investimentos sustentáveis no Nordeste: as oportunidades do powershoring”, organizado pelo Consórcio Nordeste, pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS). O evento contará com participação de especialistas nacionais e internacionais para debater o uso competitivo de energia renovável, clusters industriais de baixo carbono e instrumentos de mitigação de risco para investimentos.
Até 2024, a capacidade instalada centralizada de geração de energia renovável na região Nordeste era elevada: cerca de 58.686 MW, dos quais aproximadamente 89,2 % eram provenientes de fontes renováveis (eólica, solar, hidráulica e biomassa). Além disso, há linhas de crédito regionais previstas para armazenamento de energia via baterias, reforçando a capacidade de integrar fontes intermitentes.
Visão e potenciais regionais
O Nordeste concentra grande parte da geração solar e eólica do país. Fontes jornalísticas indicam que a região responde por aproximadamente 82,6 % da capacidade instalada nacional nessas duas fontes (solar + eólica). Essa predominância cria vantagens competitivas para indústrias que demandam energia limpa, recursos locais (minerais críticos, baterias, insumos químicos) e logística próxima aos centros de geração.
Os organizadores do seminário defendem que esse cenário favorece a estratégia do powershoring — conceito desenvolvido pelo economista Jorge Arbache, da Universidade de Brasília — que consiste em realocar produção industrial para regiões com elevada oferta de energia renovável barata e insumos locais com menor pegada de carbono.
Perspectivas de investidores e financiamento
Entre os painéis previstos, haverá debates sobre mecanismos de financiamento e mitigação de riscos para projetos sustentáveis. O BNB, por exemplo, informou que em 2024 financiou projetos de energia limpa (eólica e solar), com 47 grandes usinas que geraram cerca de 1.930 MW de capacidade, e cujo impacto estimado evita cerca de 18,3 milhões de toneladas de CO₂ equivalente ao longo dos anos.
Além disso, estão previstas linhas de crédito específicas para armazenamento de energia (via baterias), importantes para integrar energia solar e eólica intermitentes e garantir estabilidade no sistema elétrico. Em 2025, o fundo regional FNE Verde conta com previsão de recursos de aproximadamente R$ 7,7 bilhões para tais sistemas.
Desafios e visões críticas
Apesar das vantagens, especialistas apontam desafios para consolidar o polo industrial verde no Nordeste. A infraestrutura de transmissão ainda precisa avançar para escoar energia renovável para outras regiões consumidoras e garantir estabilidade. Recentemente foram anunciados leilões de linhas de transmissão com investimento estimado de R$ 56 bilhões para ampliar a capacidade e a rede de transmissão na região.
Outra questão é a necessidade de desenvolver mão de obra qualificada para indústrias de baixa emissão (como siderurgia verde, produção de fertilizantes sustentáveis ou químicos com recursos renováveis). Também há necessidade de marcos regulatórios claros que incentivem investimento privado e cooperação internacional. Esses pontos serão debatidos no painel institucional do seminário.
Participação institucional e cooperação internacional
O evento contou com apoio de diversos parceiros institucionais, como o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), o Conselho Empresarial Brasil China (CEBC), o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), bem como cooperação internacional via UK PACT. A participação de filantropia e cooperação externa é vista como relevante para articular projetos, adequar marcos regulatórios e trazer tecnologia estrangeira para transferência de know-how e financiamento.
Também haverá palestras de representantes do governo federal e de organismos internacionais, com enfoque em políticas de economia verde, descarbonização e transformação ecológica.
Benefícios esperados para o território
Os organizadores projetam que os investimentos sustentáveis possam gerar empregos de qualidade, promover inclusão regional e estimular diversidade econômica nos estados nordestinos. A expectativa é de fortalecer clusters industriais locais, portos integrados e cadeias de valor ligadas às energias renováveis e insumos para baterias ou combustíveis de baixo carbono.
O seminário “Como escalar e acelerar os investimentos sustentáveis no Nordeste: as oportunidades do powershoring” marca uma iniciativa relevante no contexto da transição energética e do desenvolvimento econômico regional. Apesar de desafios como infraestrutura e capacitação, há base sólida para avanços, com atores públicos, privados e internacionais articulando políticas, financiamento e cooperação técnica.
Em resumo, a região Nordeste possui vantagens competitivas para liderar a economia de baixo carbono — tanto por sua forte capacidade em energia renovável quanto por potencial de industrialização verde. O evento poderá impulsionar projetos concretos, fortalecer marcos institucionais e consolidar uma agenda sustentável de longo prazo para toda a região.
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