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O desgaste acelerado do segundo governo Mary Gouveia

Gestão centralizadora, conflitos internos e rejeição crescente marcam o segundo mandato da prefeita de Escada.

Jandelson e Mary Gouveia
Prefeita de Escada Mary Gouveia junto com seu esposo e ex-prefeito Jandelson Gouveia. Foto: Reprodução

O resultado das eleições de 2024 em Escada deixou claro que o grupo político liderado pela prefeita Mary Gouveia (PL) está diante de um processo acelerado de desgaste. Mesmo com toda a estrutura da máquina pública ao seu favor, com a influência histórica do clã Gouveia e com o peso político de três mandatos familiares — dois de seu esposo, Jandelson Gouveia, e um seu, em 2020 — a prefeita venceu por apenas 114 votos. Um resultado apertado, improvável para quem detém poder, recursos e tradição política. E esse recado das urnas era simples: a paciência do eleitor escadense está no limite.

A vitória apertada tornou visível o que muitos já percebiam nos bastidores: o grupo dos Gouveia perdeu completamente a capacidade de dialogar com as ruas. De um lado, um candidato iniciante, sem histórico político, mas com o frescor que grande parte da população desejava. Do outro, um projeto político desgastado que governa Escada há duas décadas. A rejeição, mais do que a aprovação de propostas, decidiu aquela eleição.

No início de 2025, quando Mary iniciou seu segundo mandato, havia ainda quem acreditasse que ela poderia corrigir os erros cometidos entre 2021 e 2024. Uma chance rara, dada pela própria população, de recomeçar com mais diálogo, humildade e capacidade política. Mas os primeiros meses mostraram que o caminho escolhido seria exatamente o oposto.

A traição precoce aos aliados e o isolamento político


O segundo mandato de Mary Gouveia começou com uma ruptura silenciosa — mas profunda — com boa parte dos aliados que foram fundamentais para sua vitória apertada. Pessoas que aderiram ao projeto da prefeita no momento mais difícil da campanha foram simplesmente descartadas após o resultado das urnas.

Muitos não receberam sequer um agradecimento público. Outros foram excluídos de espaços de diálogo ou tiveram portas fechadas em secretarias e repartições. A prática de “usar e jogar fora” não é nova na política, mas em uma eleição decidida por tão poucos votos, a falta de consideração se tornou ainda mais evidente. O sentimento geral entre antigos apoiadores é de traição.

Não surpreende que a principal crítica interna recaia sobre a influência dominante de Jandelson Gouveia, que mesmo sem ocupar cargo eletivo continua a ditar o ritmo do governo. Ele é quem articula, decide, coordena e determina os rumos da prefeitura, relegando Mary a um papel secundário — ou, no mínimo, compartilhado. Para boa parte da população, a gestão é de Mary apenas no nome; na prática, repete a lógica autoritária de seus oito anos como prefeito.

A gestão marcada pela centralização e perseguição


Há um padrão que se repete na política escadense desde a ascensão dos Gouveia: centralização extrema, pouca abertura ao diálogo e um ambiente administrativo permeado por perseguições. Muitos acreditavam que, por ser mulher, professora e ter um discurso mais sensível, Mary pudesse construir uma gestão mais dialogada. O oposto aconteceu.

A prefeita replicou, quase linha por linha, o modelo autoritário que marcou os mandatos de Jandelson. Servidores públicos relatam pressões, falta de comunicação clara, ausência de valorização e decisões tomadas sem nenhum debate. As categorias mais afetadas têm sido tradicionalmente as mais organizadas — como os professores — que acumulam frustrações diante das atitudes da gestão.

As narrativas que antes serviam para atacar gestões opositoras agora recaem sobre a própria prefeita: perseguição, desprezo pelo diálogo, autoritarismo e desrespeito às vozes de base. Em uma cidade pequena, onde a política é vivida nas ruas e nas conversas cotidianas, isso tem efeito multiplicador sobre a opinião pública.

Obras não sustentam um governo sem identidade

É verdade que o governo Mary Gouveia executa obras: pavimentação de ruas, pequenas requalificações, reformas pontuais. Mas tudo isso é o básico, o mínimo, aquilo que qualquer gestão municipal precisa fazer. Não há inovação, não há projeto estruturante, não há marca própria.

Mary segue repetindo o mantra de “salário em dia”, como se cumprir uma obrigatoriedade constitucional fosse mérito. Não é. Gestor nenhum merece tapinhas nas costas por fazer o que a lei manda, sob risco de punição. A cidade quer mais: quer geração de emprego, quer mobilidade urbana digna, quer investimento real em educação e saúde, quer planejamento de futuro.

E é justamente a falta dessa visão — dessa marca política que diferencie Mary de qualquer gestor mediano — que acelera sua queda de popularidade.

Um fim de ciclo anunciado

Caso a prefeita mantenha este modelo de governar até 2028, o resultado eleitoral será previsível: ela e Jandelson encerrarão suas carreiras políticas com rejeição alta e poucas chances de eleger um sucessor. Em Escada, ciclos políticos costumam durar anos, mas todos chegam ao fim. Zé Alves passou. Lucrécio passou. E agora, tudo indica que o ciclo dos Gouveia também está terminando.

O desgaste interno, a rejeição crescente, o distanciamento da população, a falta de visão estratégica e o autoritarismo excessivo criaram um ambiente quase irreparável. E o que resta é a perspectiva de uma renovação política real — não aquela promessa vazia de campanha — mas uma renovação que surge quando a população finalmente se cansa de velhas práticas.

Em 2028, se nada mudar, Escada pode viver a virada histórica que tantas cidades da Mata Sul já viveram: o rompimento com grupos tradicionais que tratam o poder como propriedade familiar. A democracia sempre reencontra seu caminho, e o eleitor sempre dá sinais antes de virar a página. Em 2024, esse sinal foi dado. A gestão ignorou. A conta chegará.

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