Painel reúne gestores, especialistas e ONGs para debater ações climáticas e alimentação sustentável.
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| COP30 apresenta políticas de diversificação proteica e adaptação climática nas redes públicas. Foto: Foto: Divulgação/Humane World for Animals |
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) promoveu, nesta sexta-feira (14), um painel dedicado à discussão de sistemas alimentares resilientes ao clima, tema estratégico no cenário internacional. O debate, intitulado “Nutrir a ação climática”, ocorreu das 18h30 às 20h, na Sala 6 da Blue Zone, reunindo representantes públicos, organizações internacionais e especialistas em políticas alimentares sustentáveis.
O objetivo central do encontro foi apresentar experiências e instrumentos políticos capazes de orientar governos a alinharem seus sistemas alimentares aos Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) e às Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), reforçando a relação entre alimentação, saúde pública e ação climática.
Diversificação proteica e políticas públicas sustentáveis
Durante o painel, os participantes apresentaram iniciativas que buscam reduzir a pegada de carbono por meio da diversificação proteica nas redes públicas. Entre os convidados estavam Rodrigo José Abreu dos Santos, coordenador de operações técnicas da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, e Ivan Euler, secretário de Sustentabilidade, Resiliência e Bem-estar e Proteção Animal de Salvador.
Rodrigo Abreu compartilhou a experiência do município do Rio de Janeiro com o programa “Prato Sustentável”, implementado em escolas municipais. Segundo ele, o ambiente escolar é um espaço estratégico para promover hábitos alimentares mais saudáveis e alinhados ao clima.
“A escola é um espaço de formação integral. Quando oferecemos refeições mais saudáveis e sustentáveis, estamos ensinando nossos alunos a cuidarem de si mesmos e do planeta. Mudanças simples nas políticas de alimentação podem gerar resultados concretos para o clima e para a saúde dos estudantes”, afirmou.
Já a prefeitura de Salvador apresentou o programa “Educando para a Sustentabilidade”, que integra educação alimentar, educação climática e mudanças nas compras públicas para fomentar dietas mais sustentáveis.
Ferramentas práticas para governos
O painel foi organizado com o apoio da Humane World for Animals, que atua globalmente com iniciativas de alimentação sustentável. De acordo com Thayana Oliveira, diretora-executiva da organização, o encontro teve como foco oferecer ferramentas práticas para gestores públicos.
“O painel forneceu medidas concretas, desde a implementação de compras públicas sustentáveis até o estímulo à inovação no setor. A ideia é reduzir a lacuna entre políticas alimentares e políticas climáticas”, explicou.
Segundo a organização, experiências bem-sucedidas mostram que a transição para sistemas alimentares resilientes ao clima passa pela combinação entre educação, diversificação proteica, investimentos adequados e políticas de longo prazo.
Participação internacional e perspectivas globais
Além dos representantes brasileiros, participaram do painel Rune-Christoffer Dragsdahl, vice-presidente do Programa de Subvenções para Alimentos à Base de Plantas do governo dinamarquês; a deputada federal Duda Salabert; Dr. Christopher Browne, chefe global de Pesquisa e Políticas da CIWF; e Stephanie Maw, gerente-sênior de Políticas e Advocacia da ONU na ProVeg International.
As contribuições internacionais reforçaram que a transformação dos sistemas alimentares é uma pauta global. Segundo os especialistas presentes, ações de diversificação proteica, inovação tecnológica e compras públicas sustentáveis já são adotadas em diferentes países, com resultados positivos para a redução de emissões e para a segurança alimentar.
Sistemas alimentares e o desafio climático
Atualmente, os sistemas alimentares são responsáveis por quase um terço das emissões globais de gases de efeito estufa. Eles também estão ligados ao desmatamento, à perda de biodiversidade e a impactos significativos na saúde humana. Por outro lado, oferecem oportunidades importantes para mitigação e adaptação.
Ivan Euler destacou a necessidade de integrar políticas alimentares aos compromissos climáticos:
“Só conseguiremos manter as metas do Acordo de Paris ao nosso alcance se transformarmos os sistemas alimentares globais. Dietas sustentáveis são centrais para compromissos nacionais de clima e natureza, especialmente em temas como desmatamento, resiliência e segurança alimentar.”
Resultados das iniciativas no Brasil
Atualmente, Rio de Janeiro e Salvador desenvolvem programas com o apoio da Humane World e da Mercy for Animals. Os projetos têm se concentrado em diversificação proteica, educação nutricional e integração entre hábitos saudáveis e ação climática.
No Rio, o projeto-piloto “Prato Sustentável” funciona em 15 escolas municipais e está em fase de avaliação para expansão em 2026 e 2027.
Em Salvador, o programa já mostra resultados expressivos:
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16 mil hectares de terra poupados
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258 milhões de litros de água economizados
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55 mil toneladas de CO₂eq evitadas
Esses indicadores refletem o impacto direto das mudanças alimentares no combate à crise climática.
Além das duas capitais, outras cidades brasileiras também adotam políticas semelhantes. Caruaru (PE) desenvolve o programa “Merenda Saudável”, enquanto Sobral (CE) realiza o “Viver Bem Sobral”. Em Belo Horizonte (MG), o programa “Mais Horta no Prato” introduz alimentos frescos em restaurantes populares.
Humane World for Animals e atuação global
A Humane World for Animals é uma ONG com mais de 70 anos de atuação internacional. Presente em mais de 50 países, trabalha para promover o bem-estar dos animais e fortalecer práticas sustentáveis, incluindo programas de alimentação escolar com baixa pegada ambiental.
A organização atua em parceria com governos locais, empresas e instituições de pesquisa, contribuindo para a formulação de políticas públicas de longo prazo e educação climática.
O debate realizado na COP30 reforça a urgência de transformar os sistemas alimentares para enfrentar a crise climática. As experiências apresentadas mostram que políticas públicas bem desenhadas podem gerar benefícios ambientais, sociais e de saúde.
Ao conectar alimentação sustentável, educação e ação climática, o painel “Nutrir a ação climática” demonstrou que construir sistemas alimentares resilientes ao clima é uma agenda possível e estratégica para governos em diferentes contextos.

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