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Abandono da engorda revela crise na gestão de Jaboatão dos Guararapes

Nove anos de descuido das gestões Anderson Ferreira e Mano Medeiros revelam os limites da gestão de Jaboatão dos Guararapes.

Praia de Candeias
Engorda da praia deteriora e expõe falhas do governo. Foto: Divulgação

A gestão municipal em Jaboatão dos Guararapes vive, há quase uma década, um ciclo de estagnação política, administrativa e estrutural. O avanço da erosão costeira, agora motivo de reconhecimento oficial de situação de emergência pelo governo federal, expõe de forma incontornável a soma de omissões e decisões equivocadas das gestões consecutivas do ex-prefeito Anderson Ferreira (PL) e do atual prefeito Mano Medeiros (PL). Ambas tiveram tempo, orçamento e alertas suficientes para agir, mas preferiram administrar por aparência, marketing e medidas pontuais que jamais enfrentaram os problemas estruturais do município.

Enquanto isso, o que restou aos moradores das áreas costeiras foi conviver com o medo, as perdas e a incerteza sobre o futuro de suas casas, seu comércio e seu território. O mar avança, mas a gestão recua.

O abandono de uma obra estratégica

É impossível falar da atual situação sem voltar ao período anterior, quando a gestão de Elias Gomes (PT) realizou a chamada “engorda da praia”, uma intervenção robusta que, à época, garantiu alívio à população e demonstrou capacidade técnica de enfrentamento ao desafio ambiental. A obra não era uma solução eterna — nenhuma obra de contenção marinha é —, mas exigia manutenção periódica, acompanhamento técnico e investimentos contínuos.

O problema é que, nos nove anos seguintes, essas ações simplesmente não aconteceram. A engorda foi tratada como obra concluída, não como política pública permanente. As gestões de Anderson Ferreira e Mano Medeiros, ambas do mesmo grupo político, deixaram que o tempo, as marés e a erosão fizessem seu trabalho destrutivo sem qualquer resistência institucional à altura.

Se uma obra dessa magnitude não recebe manutenção, ela se deteriora. Evitar essa deterioração era obrigação das administrações posteriores — mas nenhuma delas assumiu a responsabilidade.

Gestão voltada para marketing, não para planejamento

Anderson Ferreira construiu seu mandato com forte presença midiática, slogans e ações pontuais que, embora publicamente celebradas, não geraram um planejamento consistente para áreas vulneráveis. A falta de continuidade nas políticas de contenção e recuperação costeira é um exemplo emblemático. O município simplesmente não tinha um plano integrado, apesar de todos os sinais emitidos pela natureza e pelos especialistas.

Com a saída de Anderson para disputar eleições, Mano Medeiros herdou um município fragilizado — mas, em vez de corrigir o curso, manteve a mesma lógica administrativa: paliativos, improviso e reatividade. O avanço da erosão não surgiu agora. Ele se agravou ano após ano, sempre registrado pela imprensa, por moradores e por ambientalistas. Ainda assim, nenhuma das gestões colocou o tema no centro de sua agenda estratégica.

Em vez de políticas de prevenção, preferiu-se um modelo de governo que reage apenas quando o desastre já está consumado.

A erosão como metáfora de um governo que não sustenta suas bases

A erosão costeira não destrói apenas a faixa de areia — ela destrói símbolos, memórias e economias locais. A cada metro perdido para o mar, perde-se também a confiança da população no poder público. A Avenida Beira-Mar, cartões-postais da cidade e áreas de convivência social se transformam em retratos do abandono.

A gestão municipal em Jaboatão dos Guararapes falha ao não compreender que o litoral é uma das principais riquezas econômicas, ambientais e urbanísticas do município. Sem preservação, não há turismo sustentável, não há segurança habitacional e não há futuro para diversas comunidades costeiras.

Os prejuízos acumulados nos últimos anos poderiam ter sido evitados ou reduzidos com:

  1. Monitoramento costeiro contínuo;

  2. Manutenção periódica da engorda;

  3. Projetos estruturais de contenção;

  4. Diálogo com universidades e institutos de pesquisa;

  5. Captação ativa de recursos federais;

  6. Planejamento de longo prazo.

Quando nada disso é feito, o resultado não surpreende: a crise chega — e chega com força.

A emergência mostra o fracasso das gestões

A recente decretação de situação de emergência pelo governo federal é um reconhecimento institucional de que o problema atingiu um ponto crítico. A pergunta inevitável é: como Jaboatão chegou a esse ponto?

Não foi por falta de avisos.

Os moradores alertaram.
As rachaduras alertaram.
A imprensa alertou.
As marés alertaram.
Os especialistas alertaram.

Mesmo assim, a gestão municipal não fez o que precisava ser feito. O resultado é que agora o município depende de medidas emergenciais para enfrentar algo que poderia ter sido tratado com medidas preventivas.

O governo Mano Medeiros argumenta que está buscando recursos e projetos. Mas buscar agora, quando o mar já invadiu áreas urbanas, não é mérito administrativo; é uma obrigação tardia. Governar não é apenas responder a crises — é impedir que elas se agravem.

Nove anos sem projeto de cidade

A realidade exposta pela erosão é sintoma de algo maior: Jaboatão não tem, há nove anos, um projeto de cidade.

A gestão de Anderson Ferreira priorizou agenda política e eleitoral, enquanto a gestão de Mano Medeiros tem se mostrado tímida, fragmentada e incapaz de formular respostas estruturais para os desafios do município. Ambas se beneficiaram do discurso de modernização administrativa, mas entregaram pouco planejamento concreto.

Em áreas como mobilidade, zeladoria, meio ambiente e infraestrutura, a cidade acumulou déficits. Em vez de avançar, Jaboatão sobreviveu — e mal — com intervenções esporádicas, sem integração entre políticas públicas.

O litoral é apenas o exemplo mais gritante dessa ausência de projeto.

A população merece mais do que discursos e improvisos

Os moradores de Jaboatão não pedem milagres. Pedem seriedade, continuidade administrativa e responsabilidade com o futuro da cidade. Pedem que prefeitos compreendam que obras estruturais exigem manutenção, que políticas ambientais não podem ser adiadas e que prevenção não é gasto — é economia e proteção social.

A gestão municipal em Jaboatão dos Guararapes precisa romper o ciclo de improviso e marketing que dominou os últimos nove anos. O município necessita de liderança capaz de planejar e executar políticas públicas que dialoguem com a realidade climática, ambiental e urbana da região.

Enquanto isso não acontecer, o mar continuará avançando — e a confiança da população continuará recuando.

Quando a cidade perde solo, perde também futuro

O avanço da erosão é um desastre ambiental, mas também é um desastre administrativo. Ele expõe fragilidades profundas nas gestões de Anderson Ferreira e Mano Medeiros, que tiveram oportunidades para agir, mas não assumiram o protagonismo necessário.

Jaboatão precisa de planejamento, política pública contínua e liderança comprometida. Até lá, continuará vivendo entre emergências e improvisos — e pagando caro pela falta de manutenção de uma obra que, se cuidada, poderia ter protegido vidas, patrimônios e esperança.

Pergunta que não quer calar: Por que, mesmo diante de alertas frequentes de especialistas em gestão costeira, as administrações sucessivas do PL em Jaboatão não criaram um sistema de monitoramento contínuo da erosão?

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