PF investiga vazamento de informações sigilosas da Operação Zargun que teria beneficiado o deputado TH Joias.
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| Presidente da Alerj é preso pela PF por vazamento de operação sigilosa. Foto: Thiago Lontra/ALERJ |
A Polícia Federal prendeu preventivamente, na manhã desta quarta-feira (3), o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil). A prisão ocorreu durante a Operação Unha e Carne, deflagrada para investigar o vazamento de informações sigilosas relacionadas à Operação Zargun, que tinha como alvo o deputado estadual Tiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias.
Segundo a PF, o acesso antecipado a dados da investigação comprometeu o andamento da operação anterior e pode ter beneficiado diretamente o parlamentar investigado por suspeita de envolvimento com o tráfico de armas. A ação desta quarta-feira cumpre mandados autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e integra um esforço maior de apuração de conexões entre agentes públicos e grupos criminosos violentos no estado do Rio de Janeiro.
Mandados autorizados pelo STF e ação na Alerj
A Operação Unha e Carne foi deflagrada nas primeiras horas da manhã. Agentes da Polícia Federal estiveram na sede da Alerj, no Centro do Rio, onde cumpriram mandados de busca e apreensão diretamente na sala da presidência. Ao todo, foram cumpridos:
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1 mandado de prisão preventiva
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8 mandados de busca e apreensão
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1 mandado de intimação
Todos os mandados foram expedidos pelo STF. A ação ocorreu simultaneamente em diferentes endereços ligados ao presidente da Alerj.
Enquanto as equipes realizavam buscas na sede do Legislativo estadual, Bacellar prestava depoimento na Superintendência da Polícia Federal, no Rio. Minutos após o depoimento, ele recebeu voz de prisão preventiva.
Suspeita de repasse ilegal de informações sigilosas
De acordo com a PF, o objetivo central da Operação Unha e Carne é investigar a suposta participação de Bacellar em um vazamento de informações sigilosas referentes à Operação Zargun, realizada em 2025.
A PF afirma que dados internos da investigação teriam sido repassados para terceiros antes da execução das diligências, permitindo que alvos fossem alertados previamente sobre a ação policial. Esse vazamento, segundo a corporação, “obstruiu o andamento das investigações”, dificultando a coleta de provas e colocando em risco a eficácia do trabalho policial.
A suspeita é que o presidente da Alerj teria colaborado para que informações chegassem ao entorno de TH Joias, preso em setembro de 2025. Até o momento, porém, a Polícia Federal não detalhou de que forma o repasse teria ocorrido ou quem mais estaria envolvido.
O que diz a Polícia Federal
Em nota, a Polícia Federal afirmou que a Operação Unha e Carne tem como foco “combater a atuação de agentes públicos envolvidos no vazamento de informações sigilosas, o que culminou com a obstrução da investigação realizada no âmbito da Operação Zargun”.
A corporação também destacou que a ação desta quarta-feira deriva de determinações emitidas pelo Supremo Tribunal Federal no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecida como “ADPF das Favelas”. A decisão atribuiu à PF a responsabilidade de investigar a atuação de grupos criminosos violentos no estado, bem como possíveis vínculos entre organizações criminosas e agentes públicos.
Contexto: quem é TH Joias e o que investigava a Operação Zargun
A Operação Zargun, que agora está no centro das suspeitas de vazamento, foi deflagrada em 3 de setembro de 2025. Na ocasião, o deputado estadual Tiego Raimundo dos Santos Silva (TH Joias) foi preso sob suspeita de atuar como intermediário na compra e venda de armas para o Comando Vermelho, uma das maiores facções criminosas do país.
Segundo as investigações, o parlamentar teria facilitado o contato entre fornecedores de armas e membros da organização criminosa. A PF sustentou que TH Joias exercia influência política e utilizava sua posição para ampliar a rede de conexões entre o tráfico e agentes públicos.
A suspeita é que o vazamento de informações sobre a operação teria possibilitado que investigados ajustassem condutas ou ocultassem provas. A PF, contudo, não confirmou se o vazamento interferiu no cumprimento dos mandados contra TH Joias, que segue preso.
Alerj aguarda informações oficiais
A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro informou que ainda não recebeu notificação oficial da Polícia Federal sobre a prisão do presidente da Casa ou sobre os mandados cumpridos na manhã desta quarta-feira. Em nota, a instituição declarou que, assim que tiver acesso a todos os detalhes da operação, adotará as medidas cabíveis.
A liderança da Alerj não se pronunciou sobre eventual afastamento temporário do presidente ou sobre possíveis impactos no funcionamento do Legislativo estadual. Parlamentares ouvidos reservadamente afirmam que aguardam mais informações antes de se manifestar publicamente.
Defesa ainda não se pronunciou
Até o fechamento desta reportagem, a equipe de reportagem não conseguiu contato com a defesa de Rodrigo Bacellar. O espaço permanece aberto para manifestação ou esclarecimentos.
Reações políticas e efeitos institucionais
A prisão do presidente da Alerj tem repercussão imediata no cenário político fluminense. Considerado um dos principais articuladores do União Brasil no estado, Bacellar vinha atuando como figura estratégica nas negociações internas da Casa e na interlocução com o Executivo estadual.
Especialistas em direito penal e direito público afirmam que a prisão preventiva de uma autoridade desse nível não é comum, mas pode ocorrer quando há indícios de que o investigado poderia interferir na coleta de provas, o que reforça a gravidade da suspeita de vazamento.
A condução da operação pelo STF e pela Polícia Federal também evidencia o caráter nacional da investigação, já que o vazamento teria sido praticado por agentes públicos com responsabilidades institucionais relevantes.
O que acontece agora
Com a prisão preventiva, Rodrigo Bacellar deverá permanecer custodiado enquanto avançam as investigações da Operação Unha e Carne. A PF dará continuidade à análise de documentos, celulares e computadores apreendidos na Alerj e em outros endereços.
O STF, que autorizou os mandados, também poderá avaliar pedidos de habeas corpus ou medidas alternativas solicitadas pela defesa.
Além disso, o novo inquérito busca identificar outros possíveis envolvidos no repasse de informações sigilosas e apurar a eventual existência de rede de proteção institucional a investigados por crimes graves.
A prisão preventiva do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, durante a Operação Unha e Carne, representa um novo capítulo das investigações que miram a relação entre agentes públicos e organizações criminosas no Rio de Janeiro. O caso envolve suspeitas de vazamento de informações sigilosas, possível interferência em inquéritos e uma rede de relações que ainda está sendo mapeada pela Polícia Federal.
Enquanto o STF acompanha o desenrolar do caso e a Alerj aguarda esclarecimentos oficiais, o avanço das apurações deve nortear os próximos passos e determinar os impactos políticos e institucionais da operação.

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