Barroso se despede do STF após 12 anos de serviço. Em discurso, afirma deixar cargo com dever cumprido e destaca compromisso com a democracia.
![]() |
Barroso destacou que não deixa mágoas nem ressentimentos após mais de 12 anos no STF. Foto: Luiz Silveira / STF |
Na última quinta-feira (9 de outubro de 2025), o ministro Luís Roberto Barroso se despediu formalmente do Supremo Tribunal Federal (STF), ao fim de uma trajetória de mais de 12 anos na Corte, sendo os dois últimos como presidente. Em sessão plenária carregada de emoção, ele afirmou deixar o cargo “com o sentimento de dever cumprido” e sem apego ao poder. “Deixo o Tribunal com o coração apertado, mas com a consciência tranquila de quem cumpriu a missão de sua vida”, disse. Ao final do discurso, foi aplaudido de pé pelos colegas, servidores e público presente.
Barroso ainda permanecerá alguns dias no tribunal para fechar pendências antes de formalizar seu pedido de aposentadoria.
O discurso e os destaques do pronunciamento
No discurso de despedida, Barroso fez uso da palavra-chave despedida STF ao reafirmar o que considera seu legado institucional:
Durante o pronunciamento, Barroso agradeceu seus colegas de Corte, servidores, assessores, procurador-geral da República e a imprensa, à qual atribuiu papel vital no combate à desinformação. “Mentir precisa voltar a ser errado de novo”, afirmou. Também recordou sua nomeação pela então presidente Dilma Rousseff e a atuação do presidente Lula em momentos de crise, expressando gratidão por ambos.
Reações no Tribunal e no meio político
Do STF: elogios e reconhecimento
Do Ministério Público e setores jurídicos
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, elogiou o jurista, afirmando que “embora perca-se um magistrado no Supremo, o país continuará a se beneficiar do jurista sempre culto, aberto ao diálogo e à busca pelo justo”.
No meio jurídico e político, a aposentadoria antecipada de Barroso abre espaço para especulações sobre quem poderá ocupar sua cadeira — representando uma nova oportunidade para o presidente Lula indicar um novo ministro à Corte. Essa movimentação pode gerar disputas e debates no Senado, que terá papel decisivo na sabatina do nome indicado.
Legado e pontos de tensão
Contribuições jurídicas e institucionais
Barroso teve papel central em decisões estruturais que moldaram temas relevantes no Brasil, como limitação do foro privilegiado, combate à corrupção e aprimoramento dos mecanismos de investigação.
-
Como presidente do TSE (2020–2022), enfrentou ataques ao sistema eleitoral, defendendo a segurança e auditabilidade das urnas e modernizando mecanismos de transparência na Corte Eleitoral.
-
Durante sua presidência no STF, buscou aproximar o Judiciário da sociedade por meio de visitas a diferentes regiões e interlocuções com atores diversos — indígenas, produtores rurais, oposição e situação.
-
Teve decisões marcantes como relator de processos relacionados à automação do trabalho (ADO 73), ao marco civil da internet e à responsabilização social frente à inovação tecnológica.
Críticas e controvérsias
Sua atuação pública, especialmente fora do Tribunal, foi alvo de críticas em determinados setores, acusando-o de politização excessiva do cargo.
-
Em 2022, proferiu a frase “perdeu, mané” em Nova Iorque diante de um eleitor que o provocava, episódio que gerou reações contraditórias e debates sobre postura institucional.
-
Observadores apontam que o anúncio antecipado de sua aposentadoria pode abrir margem para pressões políticas sobre o processo de indicação de seu sucessor.
Perspectivas e desdobramentos
A despedida de Luís Roberto Barroso do STF marca o encerramento de um capítulo relevante na história recente da Corte e do Judiciário brasileiro. Em seu discurso, ele enfatizou que deixa o cargo com “consciência tranquila” e reforçou valores como civilidade e compromisso com a Constituição. Sua trajetória foi marcada por decisões estruturais, aproximação institucional e atuação pública, mas também não ficou isenta de críticas. Agora, resta observar como será o processo de escolha do seu sucessor e qual será o legado real que permanecerá no Supremo e na Justiça brasileira.
0 Comentários