Negligência da gestão Mano Medeiros agrava crise do transporte complementar em Jaboatão.
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| MPPE reage ao caos após Mano Medeiros ignorar a renovação da frota e riscos aos usuários. Foto: Marina Torres |
A crise do transporte complementar em Jaboatão tornou-se um símbolo do descompasso entre as necessidades reais da população e a postura da gestão Mano Medeiros (PL). A deterioração da frota, o histórico de acidentes graves e a ausência de fiscalização compõem um quadro alarmante que se arrasta há anos — e que só agora, diante da omissão municipal, passou a ser enfrentado de forma dura pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE).
Enquanto a prefeitura se esquiva de assumir responsabilidades, o MPPE intensifica o cerco e tenta organizar, por meio de recomendação e ação civil pública, aquilo que a gestão municipal deveria ter conduzido desde o início de seu mandato: o enfrentamento sério à precariedade do transporte complementar.
MPPE faz o que a prefeitura não fez
Na tentativa de reverter o colapso do Sistema de Transporte Público de Passageiros da RMR (STPP/RMR), a 36ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital (Transportes) expediu uma recomendação com prazos e medidas concretas. Ao mesmo tempo, ajuizou uma ação civil pública na 2ª Vara da Fazenda Pública de Jaboatão, responsabilizando diretamente a gestão local pelo abandono do transporte complementar.
A recomendação do promotor Leonardo Brito Caribé, publicada no Diário Oficial de 26 de novembro de 2025, estabelece:
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Para o CTM/GRCT
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60 dias para intensificar vistorias de segurança;
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90 dias para apresentar relatório consolidado da idade da frota;
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90 dias para realizar estudos econômico-financeiros sobre a inclusão dos custos de renovação na tarifa;
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90 dias para apresentar o cronograma atualizado da licitação dos lotes remanescentes.
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Para a SEMOBI
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30 dias para deliberar sobre a inclusão da rubrica de renovação de frota na política tarifária;
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60 dias para apresentar estudos sobre o novo modelo remuneratório previsto para substituir o atual após 2026.
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Os órgãos têm dez dias úteis para informar se acatam a recomendação, sob pena de novas medidas judiciais.
Tudo isso acontece porque, segundo o MPPE, um em cada três ônibus da RMR circula acima do limite legal de vida útil, chegando a mais de 50% em algumas empresas. Os dados apontam ainda que 90% dos micro-ônibus que atendem Jaboatão têm mais de dez anos de uso — em claro descumprimento da legislação estadual e municipal.
A frota envelhecida é fruto da falta de comando municipal
A gestão Mano Medeiros não pode alegar desconhecimento da situação. O envelhecimento da frota foi documentado no Inquérito Civil nº 02011.000.141/2024, que constatou que a imensa maioria dos veículos opera fora dos requisitos técnicos e de segurança do transporte complementar.
A legislação estadual (Lei 16.787/2019) determina a renovação de ônibus convencionais com 8 anos e articulados com 10. O Decreto Estadual nº 40.559/2014 reforça os critérios de segurança e manutenção. Mas, em Jaboatão, nada disso foi efetivamente fiscalizado pela prefeitura.
A ausência de inspeções regulares, somada à falta de cobrança por parte do município, permitiu que veículos muito além de sua vida útil continuassem circulando livremente.
Essa deterioração não é apenas um problema mecânico — é resultado direto da falta de comando político, ausência de planejamento e negligência administrativa.
Acidentes que poderiam ter sido evitados — e o caso de 2023 em Marcos Freire
Nos últimos anos, a população testemunhou acidentes graves envolvendo micro-ônibus, muitos deles atribuídos a problemas mecânicos previsíveis. O mais trágico deles ocorreu em 2023, na Ladeira da Adelaide, no bairro de Marcos Freire, onde um micro-ônibus do transporte complementar perdeu o freio, desceu descontrolado e terminou em uma colisão violenta que resultou em mortes e feridos.
O acidente escancarou a realidade: veículos antigos, sem manutenção adequada e sem fiscalização rigorosa continuam operando como se estivessem em perfeitas condições.
À época, moradores relataram que aquele veículo já apresentava falhas constantes. Ainda assim, seguia nas ruas — um reflexo direto da omissão do poder público municipal.
Esse episódio deveria ter sido um divisor de águas. Deveria ter gerado uma força-tarefa de inspeção, retirada imediata dos veículos mais velhos e um plano emergencial de renovação.
Mas nada disso ocorreu.
A omissão da gestão Mano Medeiros é inegável
É comum ouvir da prefeitura a justificativa de que a responsabilidade sobre o sistema é do CTM. Mas essa narrativa não se sustenta. O transporte complementar opera dentro do território municipal, impactando diretamente a vida dos moradores. O município tem, sim, dever de:
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fiscalizar;
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aplicar multas;
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acompanhar a manutenção;
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exigir padrões mínimos;
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articular soluções com permissionários e com o CTM.
Nada disso foi encarado como prioridade pela gestão Mano Medeiros.
A prefeitura abriu mão de seu papel fiscalizador e regulador, criando um vácuo de governança que agora é ocupado pelo MPPE — que tenta, pela via judicial, corrigir o que o Executivo municipal ignorou.
As consequências já são sentidas pela população
A falta de renovação da frota torna o sistema vulnerável a falhas severas. O MPPE citou, inclusive, o apagão operacional de 22 de janeiro de 2025, que comprometeu mais de 4,7 mil viagens e evidenciou a fragilidade estrutural do transporte metropolitano.
O risco de novos colapsos, semelhantes ao encerramento da Empresa Vera Cruz, está cada vez mais evidente.
A crise do transporte complementar em Jaboatão afeta diretamente o cotidiano da população, que sofre com:
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atrasos constantes;
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superlotação;
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quebras em trajeto;
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insegurança;
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aumento do tempo de deslocamento;
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falta de previsibilidade.
Os usuários são obrigados a conviver com a incerteza diária de chegar ao trabalho, à escola ou a serviços essenciais.
É urgente romper o ciclo da precarização
Jaboatão precisa de medidas estruturais, e não de improvisos. É urgente:
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Criar um programa municipal de renovação da frota, com metas e incentivos.
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Reforçar a fiscalização, com relatórios publicizados.
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Integrar as ações municipais com o CTM, e não apenas terceirizar responsabilidades.
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Proteger a vida e a segurança dos passageiros, adotando padrões rigorosos.
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Investir em política pública real, e não apenas em discursos.
A gestão precisa abandonar a postura reativa e assumir protagonismo.
Conclusão: a crise é resultado de escolhas políticas
A degradação do transporte complementar não caiu do céu. Ela é consequência direta de escolhas — ou da falta delas.
A gestão Mano Medeiros falhou ao não fiscalizar, ao não planejar e ao não enfrentar a deterioração da frota. A tragédia de 2023 em Marcos Freire deveria ter sido o ponto de virada. Não foi. A prefeitura seguiu negligenciando um sistema que já dava sinais claros de colapso.
Agora, resta ao MPPE tentar recompor a ordem jurídica e garantir o mínimo de segurança ao usuário.
Mas não deveria ser assim. A responsabilidade primária é — e sempre foi — da gestão municipal.
A crise do transporte complementar em Jaboatão é, antes de tudo, um espelho do fracasso administrativo atual. E enquanto nada mudar, a população continuará pagando a conta com o próprio risco de vida.
A pergunta que não quer calar: Quantas tragédias mais precisarão ocorrer para Mano Medeiros assumir sua responsabilidade na renovação da frota?

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