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Alcolumbre cobra espaços do governo em meio à sabatina do STF

Presidente do Senado mira comando de bancos e autarquias enquanto Lula tenta garantir apoio à indicação de Jorge Messias ao STF.

Davi Alcolumbre
Presidente do Senado Federal, senador Davi Alcolumbre (União-AP). Foto: Carlos Moura/Agência Senado

As negociações no Senado voltaram ao centro das atenções em Brasília nas últimas semanas. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), tem cobrado do Palácio do Planalto uma lista extensa de cargos estratégicos em troca de apoio às pautas de interesse do governo. A pressão ocorre em meio à proximidade da sabatina do advogado-geral da União, Jorge Messias, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o Supremo Tribunal Federal (STF), marcada para 10 de dezembro.

Segundo aliados de Alcolumbre e fontes do governo ouvidas sob reserva, o senador mira posições de alto impacto político e administrativo, como as presidências do Banco do Brasil, do Banco do Nordeste (BNB), do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A avaliação entre interlocutores é que se trata de uma “fatura alta e complexa”, num momento em que o governo busca estabilidade no Senado.

Cargos estratégicos na mesa de negociação

Os cargos almejados por Alcolumbre são considerados, dentro e fora do governo, peças-chave na estrutura federal. O Banco do Brasil é a maior instituição financeira do país, com impacto direto na economia nacional. Já o Banco do Nordeste tem forte influência política e econômica na região Nordeste, tradicional reduto de alianças decisivas para governabilidade.

No campo regulatório, o Cade desempenha papel essencial na defesa da concorrência, analisando fusões e combatendo práticas de monopólio. A CVM, por sua vez, é responsável por regular o mercado de capitais, um dos pilares da estabilidade financeira do país.

Interlocutores do Planalto afirmam que o governo reconhece o peso desses cargos e, por isso, considera improvável atender integralmente à lista apresentada. A leitura interna é que conceder todos os espaços solicitados poderia gerar desequilíbrios políticos e descontentamento em outras alas da base.

Lula busca consenso, mas impõe limites

Embora o Palácio do Planalto tenha adotado postura de diálogo, integrantes da articulação política ressaltam que Lula pretende estabelecer limites claros nas concessões. O principal objetivo do presidente, neste momento, é assegurar apoio suficiente para aprovação de Jorge Messias no Senado. Por isso, a estratégia envolve atender parte das demandas de Alcolumbre, mas sem abrir mão de controle sobre áreas consideradas sensíveis.

De acordo com auxiliares presidenciais, Lula deve procurar pessoalmente o presidente do Senado ainda nos próximos dias. A reunião, segundo fontes, terá dois focos: fortalecer o entendimento institucional entre os Poderes e reforçar a importância da aprovação da indicação de Messias ao STF.

O peso da sabatina no tabuleiro político

A sabatina de Messias ocorre em um contexto de disputa ampliada por influência no Judiciário. Desde o retorno de Lula à Presidência, o Senado tem sido palco de debates sobre o perfil dos indicados ao Supremo. No caso de Messias, aliados do governo destacam sua trajetória jurídica, experiência na Advocacia-Geral da União e perfil técnico.

No entanto, parlamentares independentes e de oposição avaliam que o processo deve ser conduzido com rigor. Segundo eles, apesar da base governista indicar tendência favorável, o clima político sempre pode trazer surpresas. A presença de Alcolumbre como figura central nesse cenário reforça o peso das negociações no Senado, que frequentemente definem os rumos de votações estratégicas.

Alcolumbre e seu papel na atual legislatura

Desde que assumiu a presidência do Senado pela segunda vez, Alcolumbre consolidou-se como um dos articuladores mais influentes da Casa. Sua atuação em indicações ao Judiciário e em negociações com diferentes governos criou uma imagem de estrategista atento, capaz de medir a temperatura política e explorar janelas de oportunidade.

Analistas políticos avaliam que o atual movimento do senador se insere nesse contexto. Ao pressionar por cargos estratégicos, Alcolumbre busca ampliar sua base de atuação e influência, especialmente em setores onde decisões regulatórias e financeiras têm impacto nacional. Para além da disputa interna, há também o interesse de fortalecer aliados regionais, sobretudo na região Norte, onde sua atuação é mais expressiva.

Governo tenta evitar desgaste público

Mesmo diante da pressão, o Planalto tem buscado conduzir as conversas longe dos holofotes. Auxiliares afirmam que o governo considera essencial preservar a imagem institucional dos bancos e autarquias citados. Por isso, reforçam que qualquer mudança deve seguir critérios técnicos e alinhamento com políticas públicas do Executivo.

Além disso, a articulação política tenta evitar que a negociação seja interpretada como troca de favores. Para integrantes do governo, é essencial transmitir a mensagem de que o diálogo com o Senado é legítimo, mas que decisões estratégicas são tomadas com responsabilidade.

Especialistas analisam o cenário

Cientistas políticos ouvidos por portais nacionais apontam que as negociações entre Executivo e Legislativo fazem parte da rotina democrática. No entanto, ressaltam que cargos de alta relevância — como os citados na disputa — precisam ser preenchidos com critérios técnicos. Segundo os especialistas, a transparência nesses processos é fundamental para evitar percepções de aparelhamento estatal.

Caminhos para um acordo

A expectativa em Brasília é que Lula e Alcolumbre encontrem um meio-termo nas próximas semanas. Interlocutores afirmam que, embora o Planalto não pretenda entregar toda a lista de cargos solicitada, algumas concessões devem ser feitas para garantir governabilidade e aprovação da indicação ao STF.

Caso a sabatina de Messias ocorra sem dificuldades, o governo pode ganhar margem de negociação nos meses seguintes. Por outro lado, caso haja resistência crescente entre senadores, o Planalto deve intensificar os diálogos.

As negociações no Senado envolvendo Davi Alcolumbre e o governo Lula evidenciam a complexidade da relação entre os Poderes. A disputa por cargos estratégicos, somada à importância da indicação de Jorge Messias ao STF, cria um cenário de intensa articulação política. Nos próximos dias, a interlocução entre o Palácio do Planalto e o Senado deve definir não apenas o futuro da sabatina, mas também os rumos de espaços-chave na administração federal.

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